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Publicado em: 27/07/2023 | Atualizado em: 28/07/2023

Estudo revela alterações imunológicas relacionadas à lesão cardíaca em pacientes hipertensos com COVID-19

Por Ascom Faperj*

Gráfico exibe resultados da pesquisa, publicados em artigo no periódico Journal of Clinical Immunology de elevado 'fator de impacto' entre as publicações científicas   

Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) busca investigar as causas de lesões no coração encontradas após infecção pelo vírus da COVID-19. Os resultados foram divulgados em artigo publicado no periódico Journal of Clinical Immunology, que possui elevado "fator de impacto" entre as publicações científicas. A pesquisa, que contou com a colaboração de integrantes da Rede D’Or, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), apontou que alterações do sistema imunológico podem estar envolvidas com a lesão do músculo cardíaco em pacientes hipertensos que haviam contraído o vírus da COVID-19. O trabalho recebeu apoio da FAPERJ, por meio de editais lançados para enfrentamento da pandemia de COVID-19, alguns deles em caráter "emergencial", e outros relacionados à rede Cardio-COVID-19.  

A lesão cardíaca, definida como elevação significativa da troponina cardíaca, é a anormalidade cardíaca mais frequentemente relatada em pacientes hospitalizados com COVID-19. Um estudo anterior do mesmo grupo de pesquisadores sugere que a dosagem de troponina é importante para melhorar a previsão do risco cardíaco nesses pacientes.

Dentre as comorbidades associadas à COVID-19 e à lesão miocárdica, a hipertensão aparece com  maior prevalência, e uma desregulação do sistema imunológico pode estar associada a essa complicação. O objetivo da pesquisa foi investigar o funcionamento do sistema imunológico destes pacientes e identificar marcadores biológicos que possam ajudar a entender melhor a lesão miocárdica.

O estudo incluiu 193 pacientes hipertensos com COVID-19, divididos em dois grupos: 47 casos com lesão miocárdica e 146 sem lesão miocárdica (grupo controle). Foram realizadas análises comparativas entre os grupos, levando em consideração marcadores biológicos e subconjuntos de células imunes. Os resultados revelaram diferenças significativas nos perfis imunológicos entre os dois grupos.

De acordo com o coordenador da pesquisa, o biofísico Emiliano Medei, o resultado do trabalho permitiu entender melhor como o vírus da COVID-19 consegue gerar alterações, não apenas nos pulmões e no sistema respiratório, mas também em pacientes hipertensos. "O estudo demonstrou que uma desregulação, ou seja, uma alteração no sistema imunológico, é responsável por gerar danos no coração. A partir desses dados, poderemos trabalhar de forma mais eficaz na concepção de tratamentos e na busca por novas ferramentas a fim de combater esse importante dano provocado em nosso organismo por essa doença", disse Medei, professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ) e pesquisador do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (Idor). Ele conta com apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Cientista do Nosso Estado.

Parte da equipe que trabalhou na pesquisa, que contou com a participação de 25 integrantes de diversas instituições de ensino e pesquisa. Na foto estão o coordenador do estudo, o biofísico Emiliano Medei (3º a partir da dir.) e a primeira autora do artigo, a cardiologista Renata Moll Bernardes (2ª a partir da dir.) Foto: Divulgação

Para a cardiologista Renata Moll Bernardes, primeira autora do artigo e pesquisadora do Idor, um estudo prévio do grupo observou um grande número de pacientes hipertensos com  troponina aumentada durante a hospitalização por COVID-19. "A presença desta proteína no sangue indica que houve lesão do músculo cardíaco, e este achado se associou com pior prognóstico e maior mortalidade. No último estudo conseguimos entender melhor como o sistema imune está envolvido nesta lesão do músculo cardíaco", destacou.

O grupo de pesquisa já havia demonstrado em um estudo anterior que as IL-12 (p70) e IL-10 obtidas na admissão hospitalar, junto com algumas comorbidades clínicas, podem ser marcadores biológicos associados ao aumento do agravamento da COVID-19 em pacientes hipertensos. De maneira geral, as citocinas consistem em grupos de proteínas, produzidas por muitos tipos celulares, que regulam a resposta imune no organismo. A tempestade de citocinas, ou seja, a hiperativação do sistema imunológico devido à infecção por SARS-CoV-2 pode gerar uma inflamação sistêmica. No presente estudo, as citocinas IL-ra, IFN-γ, MIP-1α, MIP-1β, IL-17A, TNF-α e TNF-β apresentaram níveis mais altos no grupo dos pacientes com lesão miocárdica em comparação com o controle.

Outra característica importante no quadro de COVID-19 é a linfopenia, isto é uma redução dos linfócitos, células envolvidas na resposta imunológica, que está fortemente associada à progressão da gravidade da doença. Os pesquisadores constataram uma diminuição na contagem total de linfócitos, principalmente de linfócitos T nos pacientes com lesão miocárdica. Esse resultado estava de acordo com um estudo anterior, que identificou o comprometimento da imunidade regulada pelas células. Vale destacar que também foi observada uma ativação desregulada de subconjuntos específicos de células imunológicas NK e CD8+.

Em resumo, os resultados deste estudo fornecem novos elementos para entender os possíveis mecanismos de lesão miocárdica em pacientes hipertensos com COVID-19. A desregulação imunológica, caracterizada por níveis alterados de citocinas e ativação de subconjuntos celulares imunes, parece desempenhar um papel importante nessa complicação, sendo fatores que podem ser úteis na previsão da lesão miocárdica em pacientes hipertensos com COVID-19. Essas descobertas contribuem para uma melhor compreensão da doença e podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias de tratamento mais eficazes.

* Com informações da Assessoria de Comunicação do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (Idor)

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