Paula Guatimosim
A figura mostra o esquema de desenvolvimento de materiais bioativos |
Doenças bucais afetam cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo e costumam estar associadas a outros problemas graves de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cárie é a segunda doença mais prevalente no mundo e afeta cerca de dois terços da população. Diante desta realidade, a Federação Mundial de Odontologia instituiu o dia 20 de março como Dia Mundial da Saúde Bucal, criado com o objetivo de alertar as pessoas sobre a importância de evitar o estabelecimento da cárie.
O desenvolvimento da cárie está relacionado, principalmente, à má higiene bucal e ao alto consumo de sacarose. Bactérias presentes na cavidade oral metabolizam a sacarose, produzem ácidos que atacam o esmalte e dissolvem as estruturas dentárias, formando cavidades que devem ser tratadas e restauradas. Os materiais disponíveis no mercado são inertes, ou seja, apenas recompõem os tecidos perdidos e restauraram esteticamente a anatomia do dente. “São materiais que não repõem os minerais perdidos no processo e não colaboram na prevenção de cáries futuras, que é o propósito do nosso estudo”, explica o Professor Eduardo Moreira da Silva, da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Eduardo Moreira da Silva: para o pesquisador, o propósito do estudo é também prevenir as cáries |
O pesquisador vem conduzindo pesquisas no sentido de desenvolver materiais que não apenas restaurem os dentes, mas que sejam capazes de prevenir o desenvolvimento da cárie ou controlá-la quando já instalada. Isto vem sendo realizado com a introdução de substâncias bioativas e remineralizantes em resinas restauradoras experimentais, que vem sendo testadas em lesões artificiais de cárie produzidas com biofilme de S. mutans, uma das bactérias envolvidas no desenvolvimento da cárie. Segundo o pesquisador, os resultados têm sido promissores e alguns deles já foram publicados em revistas internacionais de alto impacto científico como Dental Materials, Journal of Dentistry e Journal of the Mechanical Behavior of Biomedical Materials. Após estas publicações, as pesquisas estão voltadas para o pedido de registro e patente de novos materiais que já estão sendo desenvolvidos, ressalta o professor.
O pesquisador ressalta a importância do apoio da FAPERJ para o desenvolvimento de suas pesquisas, que já contaram com bolsa de Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) e duas bolsas de Cientista do Nosso Estado (CNE), além de outros editais da Fundação e bolsa de produtividade do CNPq. “A FAPERJ é a grande mãe dos pesquisadores do Rio de Janeiro. Sem ela não poderíamos desenvolver nossos estudos e manter os nossos laboratórios”, garante.
De acordo com o pesquisador, a próxima etapa do estudo será in situ, a partir da produção de uma espécie de aparelho ortodôntico móvel para aplicação clínica, por meio da simulação de dentes cariados e aplicação dos materiais restauradores ativos. “Em alguns anos esperamos que a aplicação poderá finalmente chegar até a população, revolucionando a forma de tratar a cárie”, garante.