Débora Motta e Paula Guatimosim
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Jerson Lima: o presidente da FAPERJ deu as boas-vindas aos empreendedores convidados para a realização de pitches no Demoday do primeiro dia da programação no estande da Fundação (Foto: Marcos Patricio/FAPERJ) |
Exemplos bem-sucedidos de empreendimentos inovadores, contemplados pelo programa Doutor Empreendedor 2021, da FAPERJ, estiveram em pauta durante a apresentação de 20 pitches (apresentações) na Programação Demoday realizada nesta terça e quarta-feiras, dias 3 e 4 de outubro, no estande da Fundação, que segue montado no Armazém 4 da Rio Innovation Week até esta sexta-feira. O edital Doutor Empreendedor: Transformando Conhecimento em Inovação chegou à sua terceira edição em 2023 fomentando a criação de empreendimentos de base tecnológica conduzidos por doutores (pesquisadores com formação no nível de Doutorado) residentes no estado do Rio de Janeiro, por meio da concessão de bolsa e auxílio financeiro.
O presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, abriu a programação falando sobre a importância estratégica dos investimentos em inovação para o desenvolvimento estadual e da necessidade de absorção dessa mão de obra extremamente qualificada, com doutorado, pelo mercado, além do ambiente acadêmico. “O estado do Rio de Janeiro ocupa o segundo lugar no ranking de formação de doutores no Brasil. São cerca de três mil pesquisadores com doutorado por ano, e a maioria não é absorvida pela academia. Esse edital é uma forma de apoiar a inserção no mercado dos nossos doutores empreendedores, e que cada vez mais as empresas entrem nessa hélice da inovação, que não é mais tríplice, já é múltipla”, disse.
O CEO da empresa KAMiner, Altobelli Mantuan, abriu a série de pitches falando sobre o seu modelo de negócio. “Trabalhamos com ferramentas digitais para avaliar e identificar a percepção dos clientes sobre as marcas de produtos, a partir dos comentários deles nas redes sociais. Trabalhamos com os segmentos de cosméticos e produtos sujeitos a controle sanitário. É fundamental para o marketing das empresas conhecer o perfil dos seus clientes”, contou.
Responsável pela CasGen Biotecnologia em Mudas, Andressa Leal Generoso falou sobre sua empresa, um laboratório de micropropagação especializado na produção de diversos tipos de plantas através da clonagem e semeadura. “O Brasil tem um gargalo que é a dificuldade de importação de mudas, pelo alto custo, e pelos riscos de entrada de novas doenças nos cultivos com mudas estrangeiras. Oferecemos soluções em melhoramento genético a partir da produção em larga escala de mudas nacionais”, justificou.
A empresa Altera Genetics esteve representada por Arnon Jurberg, que explicou a missão institucional. “Somos uma empresa para produção de modelos animais geneticamente modificados direcionados para o mercado industrial farmacêutico e a pesquisa biomédica. Trabalhamos com genômica de precisão para doenças e processos fisiológicos. Produzimos animais geneticamente modificados. Em 2022, criamos o primeiro camundongo KO do estado do Rio de Janeiro, com apoio da FAPERJ e da UFRJ”, contou.
Sócio da BCR Ambiental, Bruno Rocha apresentou seu trabalho com soluções sustentáveis de tratamento de esgoto e resíduos. “Nosso objetivo é tornar mais eficiente a utilização das estações de tratamento de esgoto, reduzindo a quantidade de produtos químicos e os custos operacionais”, explicou. Para isso, a startup propõe um tratamento biológico, a partir de bactérias presentes no próprio esgoto.
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Estande da Fundação ficou lotado durante as apresentações da Programação do Demoday Doutor Empreendedor (Foto: Débora Motta/FAPERJ) |
Fundadora da BioHop, Cassia Bucher falou sobre o seu trabalho de otimização de protocolos para cultivo in vitro de lúpulo. “Precisamos suprir a necessidade de lúpulo para a produção nacional de medicamentos, cosméticos e, principalmente, para a indústria cervejeira. Praticamente todo o lúpulo utilizado no Brasil é importado da Europa e dos Estados Unidos, apesar de o País ser o terceiro maior produtor de cerveja do mundo”, informou Cassia, empenhada em desenvolver variedades de lúpulo adaptadas ao clima tropical.
Já o sócio e conselheiro da KATE Technology, Christian Aranha, compartilhou com a plateia a missão da startup de facilitar o processo de tokenização para empresas. “Será possível, a partir da nossa tecnologia, facilitar a compra de tokens pelos investidores, dentro dos critérios exigidos pela Comissão de Valores Mobiliários”, destacou o empreendedor, que em meio à apresentação do projeto da FAPERJ recebeu a notícia de que a KATE ganhou um novo aporte, aumentando sua valuation para R$ 15 milhões.
Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Cristiane Evelise Silva falou sobre a 3D MatCIS, spinoff oriunda do Instituto Nacional de Tecnologia (INT). “Oferecemos soluções em modelagem e gestão de projetos, com impressão em 3D, caracterização química, mecânica e estrutural, entre outras etapas de trabalho”, pontuou.
A testagem de alimentos e água, em diferentes estágios da cadeia produtiva, é o objetivo da startup Design Biotech. O CEO Felipe Vigoder discorreu sobre a importância da validação do modelo de negócios para a realização de testes moleculares na área de segurança alimentícia, que movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano no Brasil. “Identificamos, com auxílio da tecnologia biomolecular, patógenos não identificados no método de cultura tradicional em alimentos, e com prazo de testagem menor, de até 48 horas”, disse.
Por último, foi a vez do engenheiro agrônomo cubano da Rio Mudas, Fernando Tellechea, radicado no município fluminense de São Francisco de Itabapoana – o segundo maior produtor de abacaxi do Brasil. “Somos uma empresa de produção de mudas orgânicas e sustentáveis, a primeira do ramo na América Latina. Desenvolvemos cultivares de abacaxi, variedades bem mais resistentes às doenças e certificadas pela Embrapa, como a BRS Imperial”, concluiu.
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Ana Heloisa de Medeiros: fundadora da Movit, ela falou sobre seu empreendimento, voltado para uma fisioterapia 5.0. De acordo com a mestre e doutora em Ciências, cerca de 2,4 bilhões de pessoas no mundo (30% da população mundial) têm alguma necessidade de reabilitação (Foto: Aline Salgado/FAPERJ) |
A segunda parte do Demoday Doutor Empreendedor, dia 4 de outubro, foi aberta pelo superintendente da Área de Pesquisa Aplicada e Desenvolvimento Tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcelo Camargo. Ele apresentou ao público presente o programa Centelha, executado no estado do Rio de Janeiro pela FAPERJ, que, como o nome indica, visa dar um impulso a empreendimentos inovadores. Segundo ele, o Centelha tem a vantagem de valer para pessoas físicas, além de jurídicas com qualquer formação societária. O pipe line (etapas) a ser cumprido pelo proponente é ter uma ideia inovadora, um projeto de empreendimento e um projeto de fomento. Os projetos que forem aprovados nas três fases de seleção do Programa Centelha RJ vão contar com um apoio de R$ 70.000,00 não reembolsáveis oferecidos pela FAPERJ, além de bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Camargo lembrou que na primeira edição do programa foram recebidas mais de 15 mil propostas de todo o País, das quais 477 projetos foram contratados. Já o Centelha II, que prevê investimentos de R$ 67 milhões, já recebeu mais de 10 mil propostas oriundas de 1.121 municípios brasileiros. Ele destacou o diferencial da grande abrangência do programa, que não se restringe a uma área específica.
Após a palestra de Marcelo Camargo foram iniciados os pitches do programa Doutor Empreendedor. A pesquisadora Ana Heloisa de Medeiros falou sobre sua Movit, voltada para uma fisioterapia 5.0. Ela apresentou o dado de que 2,4 bilhões de pessoas no mundo (30% da população mundial) têm alguma necessidade de reabilitação. “Mas a reabilitação é apenas um dos níveis da fisioterapia”, considerou a mestre e doutora em Ciências. Seu projeto visa realizar a transformação digital dos processos da fisioterapia, podendo beneficiar um público-alvo de 24 mil profissionais. O principal diferencial da Movit é agregar questões e aspectos transversais ao atendimento fisioterápico. Ana Heloisa afirma que o apoio da FAPERJ foi fundamental para viabilizar seu projeto, que já participou de quatro editais, tendo captado, no geral, R$ 300 mil. A atual fase do projeto é a de validação no mercado.
Voltado para o mercado turístico, a V e D Concierge é uma solução digital para melhorar a experiência do viajante. Wendel Albuquerque destacou que o roteiro pode ser elaborado conforme o perfil do viajante e a experiência que deseja ter (aventura, romance etc). Já Gabriel da Motta Ribeiro, da Tredom, Engenheiro de Controle e Automação, mestre em Engenharia Elétrica e doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) falou sobre seu projeto, “de valor acessível em relação aos concorrentes”, voltado para pessoas que têm Apneia Obstrutiva do Sono, problema que atinge 25 milhões de pessoas, entre apneia moderada e grave no Brasil.
Jessica Dornelas, fundadora e CEO da Nano Onco 3D, iniciou seu pitch lembrando que o Brasil deverá registrar 704 mil novos casos de câncer entre este ano e 2025 e registrar um aumento de 49,7% nos casos até 2040, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, a Nano Onco 3D tem objetivo de desenvolver novos medicamentos, voltados tanto para a área farmacêutica como para os setores de cosmética e veterinária, entre outros. A empresa desenvolve métodos alternativos ao uso de animais através da aplicação de tecnologias como cultivo celular 3D, bioimpressão e microfluídica, produzindo modelos biológicos para aplicação na triagem de fármacos, ativos e nanossistemas. A principal vantagem do projeto é reduzir o custo do processo de desenvolvimento de medicamentos.
A CarbonAir Energy, por sua vez, tem a proposta de contribuir para a redução das emissões de CO2 no ambiente. Segundo o cofundador e diretor José Adolfo das Chagas, a empresa é a primeira startup de base tecnológica no mercado brasileiro que desenvolve sistemas para captura e utilização de dióxido de carbono. “Queremos reduzir os efeitos do aquecimento global, contribuir com a qualidade de vida das pessoas e criar caminhos para uma economia sustentável”, afirma. Segundo ele, a proposta de valor é compensar a emissão de CO2 a curto prazo por meio de filtros que removem CO2 diretamente do ar e fazem o aproveitamento do gás, o transformando em produtos de valor agregado. Composta por uma equipe de 13 pessoas, a CarbonAir, que contou com apoios da FAPERJ por meio dos programas Startup Rio e Doutor Empreendedor, já captou R$ 800 mil em editais de inovação e hoje se prepara para realizar o depósito da patente.
Setor que cresceu 19,8% de 2021 a 2022, segundo o Anuário da Cerveja publicado pelo Ministério da Agricultura, o mercado de cervejas artesanais agregou nada menos do que 180 novas fábricas no País no ano passado, um crescimento de 11,6% em comparação com 2021. Para atender a esse crescente mercado, a Leveduo oferece soluções para melhorar processos, padronizar e dar longevidade às cervejarias artesanais. Kássia Leone afirma que o Programa Doutor Empreendedor viabilizou a empresa, que oferece de produtos ao suporte ao produtor. “As leveduras utilizadas no processo de produção de cerveja chegam a representar 20% do custo de produção e muitas vezes os processos são caseiros, os equipamentos não são adequados, deixando o produto suscetível à contaminação e com produtividade variável”, explica ela. Assim, a Leveduo oferece equipamentos capazes de garantir um padrão de qualidade, de reduzir os custos de produção e os riscos de contaminação, além de dar suporte ao produtor.
A médica Paula Cabral apresentou seu projeto Mart (Metabolic Activity in Real Time) com utilização de tecnologia infrared. Um serviço de videotermometria na identificação precoce do câncer de mama, delimitação das margens tumorais e identificação de metástases à distância, visando a manutenção da qualidade de vida e redução de custos na utilização do Sistema Único de Saúde (SUS). Paula destacou que a inovação do projeto é a utilização do software medical device (Software como Dispositivo Médico). Enquanto a mamografia de rastreamento identifica uma lesão já existente, a videotermometria (VTM), considerada a evolução de uma tecnologia existente, poderia fazer um diagnóstico precoce antes da formação da massa tumoral. Segundo Paula, este ano o projeto encontra-se em fase de pré-registro e pré-comercialização.
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Guilherme Santos (4º a partir da esq.), assessor da Diretoria de Tecnologia da FAPERJ, ao lado de empreendedores convidados para a realização de pitches no estande da FAPERJ (Foto: Débora Motta/FAPERJ) |
Voltado para a grande maioria dos agricultores do estado do Rio de Janeiro – 85% dos quais considerados pequenos e médios – a Sucellus propõe realizar um diagnóstico agroambiental e financeiro da propriedade rural, integrando os dados coletados para gerar informações e digitalização do negócio do produtor. Segundo Rodrigo Felix, sócio-diretor da empresa, o objetivo é planejar e avaliar atividades rurais para otimizar a produtividade e a conservação ambiental. Para isso, são usadas ferramentas de sensoriamento remoto, geoprocessamento e sensores de solo e clima para monitorar a saúde da lavoura e de áreas de conservação.
Ainda na área agrícola, Sandy Videira, produtora no município de Magé, na Baixada Fluminense, apresentou a Senhor Cogumelo, que aposta nesse produto cujo mercado cresce em média 7% ao ano. Ela explica que, em geral, a produção de cogumelos é baseada na economia linear, mas sua empresa apostou na economia circular. Dessa forma, o substrato para cultivo é preparado a partir de resíduos agrícolas como bagaço de cana-de-açúcar, casca de café etc. Após o ciclo e a colheita do cogumelo, os resíduos decorrentes do cultivo também voltam como adubo para lavouras. Para aumentar a escala de produção desse alimento rico em nutrientes essenciais, Sandy vem buscando estabelecer parcerias e conquistar novos clientes, além de planejar uma agroindústria para gerar subprodutos de cogumelo (molhos, conservas etc).
O uso dos florais de Bach como terapia alternativa ou complementar é antigo, mas o floral em creme é uma novidade que a Lokram está lançando. Unindo ciência à terapia floral, a empresa pretende fazer com que o cuidado com a saúde mental seja acessível e prático para o maior número de pessoas, através do uso dos florais em creme, a grande inovação terapêutica. A idealizadora da empresa, Simone Gomes da Silva apresentou dois produtos veganos de sua linha: o OncoBach, para reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia em pacientes oncológicos, que pode ser personalizado; e o HemoBach, para tratar lesões, hematomas e protuberâncias na pele dos braços de doentes renais, causadas pela hemodiálise. A empresa também oferece o creme base para que terapeutas florais possam preparar florais em creme específicos para seus clientes.
Na área da Educação, a Affect Comunicações Digitais faz da aprendizagem uma atividade lúdica em qualquer idade. Dados indicam que o ensino a distância registra evasão média de 50% antes da conclusão. Para Fabiane Proba, doutora em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os games facilitam e tornam mais prazerosa a aprendizagem. Sua empresa desenvolve jogos sob encomenda conforme a necessidade do curso ou instituição e já está desenvolvendo produtos voltados para crianças e jovens com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), autismo e outras limitações, a fim de promover a educação inclusiva. Atualmente a empresa esta em processo de captação de parceiros (professores) e clientes.
Estimativas indicam que 63% dos brasileiros sofrem de algum tipo de dor muscular. Geórgia Ribeiro, apoiada pelo programa Doutor Empreendedor, criou a Fáscia Lab que desenvolve Modelos 3D interativos, em manufatura aditiva e virtuais para apoio à formação, diagnósticos sistêmicos integrativos e reabilitação da fáscia. Fáscia é um tecido conjuntivo (como uma membrana, pele) que envolve músculos e órgãos do corpo. E é justamente por meio da manipulação da fáscia que Geórgia propõe a reabilitação de pacientes. A startup está desenvolvendo modelos 3D para transmitir conhecimentos científicos inovadores da arquitetura sistêmica da fáscia, simulando sua dinâmica e funcionalidade, para apoiar novas formas de avaliar, diagnosticar, prevenir e reabilitar o corpo humano. O primeiro produto é pedagógico e educacional, para explicar as cadeias musculares por meio de um modelo biométrico da coluna vertical. O segundo produto é um avatar individual em 3D do paciente, cujo público-alvo são os médicos.