Débora Motta e Marcos Patricio
Mesa de abertura do evento de avaliação dos INCTs na ANM: a partir da esq., o diretor da Finep, Carlos Aragão; o presidente da FAPERJ, Jerson Lima; a diretora Científica, Eliete Bouskela; e a assessora de Relações Internacionais da Fundação, Vania Paschoalin (Fotos: Lécio Augusto Ramos) |
A FAPERJ promoveu nesta segunda-feira, dia 27 de novembro, no auditório da Academia Nacional de Medicina (ANM), no Rio de Janeiro, uma reunião para avaliação das atividades desenvolvidas pelos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) sediados no estado. No evento, coordenadores ou vice-coordenadores de 19 dos 20 INCTs fluminenses de diferentes áreas do conhecimento, que estão concluindo suas atividades em 2024, apresentaram as linhas de pesquisa de suas redes, os principais resultados alcançados em termos de produção acadêmica, de formação de recursos humanos e de transferência de conhecimento para a sociedade, além das colaborações com instituições brasileiras e do exterior.
Criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2008, o Programa dos INCTs é coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta com recursos das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) dos estados e do Distrito Federal. A FAPERJ já investiu cerca de R$ 60 milhões nos INCTs do Rio de Janeiro, estado com o segundo maior número de redes. São Paulo lidera o ranking com 44.
Na abertura da reunião, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, falou sobre a importância dos INCTs. “Na hierarquia de financiamento da FAPERJ, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia ocupam uma posição importante, porque, ao lado de outras redes, como a de Nanotecnologia e a de Saúde, representam o financiamento à pesquisa cooperativa, inter e multidisciplinar”, destacou.
“O Programa dos INCTs é muito exitoso e, mais do que isso, é fundamental para o desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Inovação no nosso País”, afirmou o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ex-presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, que prestigiou o evento. Segundo Aragão, já há recursos destinados à continuidade do Programa. “A boa notícia é que o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) está reservando, para o ano de 2024, R$ 200 milhões para que se possa fazer uma nova chamada de INCTs”, adiantou.
Para o presidente da FAPERJ, a continuidade do Programa abre novas perspectivas para os grupos de pesquisa do estado. “Acredito que em um próximo edital, o Rio de Janeiro vai competir lá em cima, pois além dos 20 INCTs que estão concluindo suas atividades em 2024, certamente há muitos grupos, de muita competência, que vão se associar ou se reassociar e participar”, afirmou.
Os institutos que participaram da reunião de acompanhamento foram contemplados na segunda edição do Programa INCT, implementada pelo CNPq, em 2017, e apoiada pela FAPERJ desde 2018. Coordenadora do evento, a assessora da Presidência da FAPERJ, Vânia Paschoalin, falou sobre a iniciativa. “O Programa tem metas ambiciosas e abrangentes, com a possibilidade de mobilizar e agregar, de forma articulada, grupos de pesquisa de diferentes estados da Federação em áreas da fronteira da Ciência, em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do País”, destacou.
Coube ao professor Roberto Lent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciar as apresentações. O pesquisador falou sobre as atividades do Instituto Nacional de Neurociência Translacional (INNT), rede que reúne 13 instituições de pesquisa, distribuídas por nove cidades de seis estados, e que trabalha com quatro grandes temas e 20 linhas de pesquisa. Desde 2014, os pesquisadores vinculados ao INNT já produziram mais de 1.300 artigos e 16 livros. Já orientaram 210 teses de doutorado e 257 dissertações de mestrado, e supervisionaram 107 pós-doutores. “A meta do INNT é construir uma ponte entre a bancada e a beira do leito”, resumiu Lent. Na sequência, os pesquisadores Carlos Morel e Thiago Moreno apresentaram as ações do INCT de Inovação em Doenças de Populações Negligenciadas (INCT-IDPN), ligado ao Centro de Desenvolvimento de Tecnologia da Saúde (CDTS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O IDPN trabalha com oito linhas de pesquisa, abrangendo temas como virologia translacional, análise de biomoléculas, produção de proteínas recombinantes e oncologia translacional.
O neurocientista Roberto Lent, um dos coordenadores dos INCTs presentes no evento de avaliação, apresentou resultados do Instituto Nacional de Neurociência Translacional |
O presidente da FAPERJ apresentou as atividades do INCT de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb), por ele coordenado, que possui grupos de pesquisa em todas as regiões do Brasil e conta com 20 laboratórios associados. Por meio do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio), a rede conta com a colaboração do professor suíço Kurt Wüthrich, ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2002. Entre 2018 e 2023, os pesquisadores do Inbeb publicaram 2.089 artigos, orientaram 277 dissertações de mestrado e 198 teses de doutorado. Nesse período foram depositadas ou obtidas 13 patentes.
Em seguida, o professor Carlos Alberto Manssour Fraga, vice-coordenador do INCT de Fármacos e Medicamentos (INCT-Inofar), fez a sua apresentação. “Entre outros objetivos, buscamos organizar, de forma articulada, em rede, as competências científicas nacionais da cadeia de inovação em fármacos e medicamentos, além de promover ações de aproximação com empresas farmacêuticas”, explicou. Entre os subprojetos temáticos do Inofar há três relacionados ao desenvolvimento de moléculas para o tratamento da Covid-19.
Dando continuidade à programação, o professor Pedro Lagerblad apresentou as ações do INCT de Entomologia Molecular (INCT-EM), que reúne 91 pesquisadores e 39 laboratórios no País. Segundo o coordenador da rede, a existência de cerca de 1 milhão de espécies de insetos é, por si só, uma justificativa para a existência do INCT-EM, cujas pesquisas já resultaram no desenvolvimento de uma vacina contra o carrapato bovino. Com a missão de promover pesquisa científica de qualidade em Entomologia Molecular, o grupo já gerou mais 1.124 publicações, 245 dissertações de mestrado e 185 teses de doutorado. Na sequência, o professor Antonio Carlos Campos de Carvalho, da UFRJ, apresentou o INCT em Medicina Regenerativa. Entre as ações do INCT-Regenera estão a realização de ensaios clínicos de terapias celulares para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e com enfisema pulmonar, a criação de um biobanco para o desenvolvimento de células de doenças crônico-degenerativas e de um biobanco de células de pluripotência induzida para terapia. O trabalho já resultou em sete patentes e deu origem a quatro startups e ao Centro de Pesquisa em Medicina de Precisão (CPMP) da UFRJ. O INCT-Regenera estabeleceu cooperações internacionais com centros avançados de terapia celular, bioengenharia e medicina regenerativa dos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Os resultados do INCT Neuroimunomodulação (INCT-NIM) foram apresentados pelo professor Wilson Savino. O instituto envolve nove instituições no Brasil e seis no exterior, e um total de 24 laboratórios, vários deles localizados na Fiocruz. As atividades do INCT-NIM se dividem em quatro eixos: Fisiologia das Interações Neuroimunendócrinas; Neuroimunomodulação em Doenças Infecciosas; Neuroimunomodulação em Doenças Metabólicas; e Neuroimunomodulação em Doenças do Neurodesenvolvimento e Neurodegenerativas. O instituto gerou mais 1.100 artigos, mais de 200 dissertações de mestrado e outras 200 teses de doutorado. Já as atividades do INCT-Pró-Oceano (INCT dos Processos Oceanográficos Integrados da Plataforma ao Talude) foram apresentadas pelo seu coordenador, o professor Ricardo Coutinho. “A missão do Pró-Oceano é contribuir para a compreensão dos processos oceanográficos da plataforma, da margem continental e do talude da costa brasileira, de forma integrada, em diferentes escalas espaciais e temporais; além da formação de recursos humanos; e da transferência do conhecimento científico para empresários e a sociedade”, explicou Coutinho. As atividades da rede estão dividas em nove eixos temáticos.
A comunicóloga Luisa Massarani, coordenadora do INCT de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), sediado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ressaltou a importância da Divulgação Científica para que a relevância do conhecimento científico seja compreendida pela sociedade. “Entre nossas atividades, estão a realização de dois surveys nacionais: O que os jovens brasileiros pensam da Ciência e Tecnologia? e Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia”, citou.
À frente do INCT em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED), o cientista político e professor do Iesp/Uerj, Renato Boschi, falou sobre os objetivos deste think tank, voltado para a renovação conceitual e instrumental da ação pública comprometida com o desenvolvimento nacional. “Nosso INCT ajuda a preencher uma lacuna que existe na literatura internacional em relação ao caso brasileiro, inserido na dinâmica das relações econômicas capitalistas”, justificou Boschi. “Tópicos como austeridade fiscal, populismo reacionário e retrocesso democrático são investigados em nossos estudos”, completou a vice-coordenadora do INCT/PPED, Ana Celia Castro.
Pesquisas sobre a questão da Segurança e da Justiça são a tônica do INCT de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC), coordenado pelo antropólogo e professor da Roberto Kant de Lima. “Realizamos etnografias no campo do Direito, fundamentais para a compreensão das desigualdades jurídicas, econômicas e sociais no País”, resumiu. Professor emérito da Universidade Federal Fluminense (UFF), ele citou um projeto sobre perícia forense desenvolvido com apoio da FAPERJ, em parceria com a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol), para analisar a produção e circulação de laudos periciais.
O INCT de Matemática (INCTMat), sediado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e coordenado pelo professor Jacob Palis, foi representado pelo matemático Lorenzo Casado. “O nosso trabalho é difundir a cultura matemática para combater as assimetrias regionais na produção acadêmica e estabelecer políticas em prol da diversidade, ajudando a incentivar a participação feminina nessa área de estudo, com a promoção de workshops, como o ‘Mulheres na Matemática’”, disse Casado.
Integrantes do comitê avaliador dos INCTs e da diretoria da FAPERJ: Paulo Menandro, Richard Miskolci, Aquilino Senra, Jerson Lima, Eliete Bouskela, Luiz Catalani, Vania Paschoalin e Paulo Beirão |
Coordenador do INCT Observatório das Metropóles, Luiz Cesar Ribeiro explicou o trabalho do seu grupo, dedicado à análise das metrópoles e o direito à cidade. “Publicamos mais de 300 artigos e 500 capítulos de livros nesses sete anos de pesquisa sobre os impactos do desenvolvimento urbano brasileiro. Pesquisamos territórios vulneráveis, conformados pelas favelas e periferias, com foco na pobreza e desigualdades na zona metropolitana”, pontuou Ribeiro, que é pesquisador Visitante FAPERJ (2023-2025) no Programa de Pós-Graduação do Centro de Ciências do Homem (CCH), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
A historiadora e professora da UFF Márcia Motta, coordenadora do INCT Proprietas, falou sobre suas pesquisas, que investigam a noção de propriedade individual ao longo da história. “O Brasil continua sendo o país com maior concentração fundiária do mundo. Nosso trabalho visa contribuir para a formulação de políticas públicas mais humanas e inclusivas sobre a questão fundiária”, justificou Márcia.
O matemático Evaldo Curado, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), falou sobre seu trabalho à frente de um INCT dedicado aos sistemas complexos, uma área que está na fronteira do conhecimento, tão importante quanto a nanotecnologia ou as pesquisas com célula-tronco. “O INCT Sistemas Complexos agrega pesquisadores de 16 instituições, focados, em pesquisas nas seguintes áreas de complexidade: sistemas biológicos e sistemas econômicos, mecânica estatística e processamento de sinais e imagens para fins de análise, detecção e predição de eventos e acidentes, por exemplo”, explicou.
Outro projeto apresentado no encontro foi o INCT do e-Universo, ligado ao Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA). O LIneA surgiu em 2010 com a missão de estimular e coordenar a participação de pesquisadores brasileiros em grandes mapeamentos do universo, realizados por consórcios internacionais, para estudos em Astrofísica e Cosmologia. “Somos o primeiro centro de e-ciência trabalhando com big data, capturando imagens do universo profundo. Inserimos pesquisadores brasileiros em consórcios internacionais de pesquisas com o objetivo de desvendar a natureza da energia escura”, contou o físico Luiz Nicolaci.
O engenheiro Fernando Lázaro, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), falou sobre o INCT de Engenharia de Superfícies, coordenado por ele. “Por meio das tecnologias da Engenharia de Superfícies, é possível prolongar a vida útil de muitos objetos cuja durabilidade interessa aumentar, ao preservá-los do desgaste por meio de filmes protetores ou de tratamentos que tornam sua superfície mais resistente. Dois exemplos de segmentos bem diferentes: finíssimos filmes protegem os discos rígidos dos nossos computadores do desgaste e da oxidação; tratamentos de superfície protegem próteses do desgaste, evitando que novas cirurgias precisem ser feitas para trocar as próteses”, disse.
Dentro da área de Ciências Exatas, a Física esteve representada pelos INCTs de Física Nuclear e Aplicações (INCT/FNA) e pelo INCT de Informação Quântica. “Nosso INCT tem o objetivo de aumentar a interação entre os grupos e entre físicos teóricos e experimentais, trabalhando em Física básica e aplicada, e gerando avanços que devem gerar novos produtos e tecnologia que devem beneficiar a sociedade”, disse o vice-coordenador do INCT/FNA, Jesus Ríos. Por último, o físico Antonio Zelaquett Khoury, membro do comitê gestor do INCT de Informação Quântica, representou a coordenadora Belita Koiller. "Investigamos as propriedades quânticas da luz para melhorar a transmissão, armazenamento e processamento da informação", concluiu.
A historiadora Márcia Motta falou sobre as atividades desenvolvidas pelos pesquisadores do INCT Proprietas, coordenado por ela, que investiga a noção de propriedade individual ao longo da história |
As apresentações foram acompanhadas pela diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, e pelo diretor de Tecnologia, Aquilino Senra. “Um ponto muito importante para as agências é financiar as pesquisas e depois avaliá-las. A FAPERJ, recentemente, fez a avaliação dos grupos vinculados à Rede de Nanotecnologia, e agora está realizando o acompanhamento dos resultados dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Essa é uma iniciativa importante que vai tornar a nossa ciência ainda melhor e vai fazer com que todos possamos conhecer o que está sendo feito”, declarou Eliete Bouskela.
“Fiquei impressionado com as apresentações dos INCTs, muito ricas, com temas estratégicos, como a informação quântica e suas aplicações na área de Computação e na Saúde. Fazer uma avaliação anual dos programas é algo que estamos demandando na FAPERJ, como forma de prestação de contas à sociedade do investimento estatal. No caso dos INCTs, sobram produtos e capacidades científicas e tecnológicas para resgatar um financiamento maior. Passamos por um momento difícil na pandemia e depois por uma insuficiência de investimentos na área de Ciência e Tecnologia. Mas os INCTs estão consagrados há um bom tempo e devem ter continuidade na captação de investimentos, pois exercem um papel importante na cooperação entre diferentes instituições do estado e do País”, afirmou Aquilino Senra.
O evento de avaliação dos INCTs fluminenses foi prestigiado, também, por assessores da Presidência e das diretorias da FAPERJ, coordenadores de área e integrantes do Conselho Superior da Fundação, por membros dos institutos e por cinco avaliadores externos especialmente convidados: os professores Edgar Zanotto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Luiz Henrique Catalani, da Universidade de São Paulo (USP); Paulo Beirão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Paulo Menandro, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); e Richard Miskolci, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).