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Publicado em: 16/05/2024 | Atualizado em: 16/05/2024

Região da Baía de Sepetiba, na zona Oeste, ganha projeto de proteção ambiental

Paula Guatimosim

A Escola Municipal Agostinho da Silveira Mattos, na Ilha de Janguanum, mantém um trabalho intenso sobre o tema Lixo Zero (Fotos: Divulgação/FFP/Uerj)

Pesquisas conduzidas desde 2011 pela professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP/Uerj) Catia Antonia da Silva, com o apoio da FAPERJ e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico  (CNPq), foram fundamentais para o mapeamento dos problemas sociais e ambientais da região da Baía de Sepetiba, localizada a oeste do município do Rio de Janeiro, que abrange os bairros da Barra de Guaratiba, Campo Grande, Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Santa Cruz e Sepetiba e os municípios de Itaguaí e Mangaratiba.

Segundo a pesquisadora, os problemas de poluição afetavam principalmente as comunidades pesqueiras, que também enfrentavam problemas na cadeia produtiva, na atividade pesqueira, além de conflitos territoriais e expansão da urbanização na região. Desde essa época os estudos já apontavam para a importância da qualidade ambiental para a pesca artesanal e para a fauna e flora costeiras. “Além dos riscos para a saúde humana, um ambiente poluído afasta os animais, seja pela redução da espécie ou pela fuga para outras regiões de melhor qualidade ambiental”, alega Cátia.

Os bairros densamente povoados da Zona Oeste são os caminhos dos afluentes da Bacia Hidrográfica do Rio Piraquê, que nascem no Maciço da Pedra Branca, na sua parte ocidental, e deságuam na Baía de Sepetiba, trazendo muitos resíduos e esgoto sanitário. Além do Rio Piraquê, a bacia hidrográfica do Rio Guandu  tem papel importante  no despejo de poluentes na Baía de Sepetiba. Por ser uma região muito populosa e urbanizada, que abriga muitas empresas de logística, mineração e portuárias, a Baía de Sepetiba enfrenta muitos problemas decorrentes do descarte inadequado dos resíduos sólidos e óleo residencial, industrial e comercial.

Os manguezais da Barra de Guaratiba, próximos às margens do Rio Piraquê, recebem resíduos sólidos provenientes dos bairros densamente povoados da Zona Oeste do Rio de Janeiro 

Catia explica que há pontos de grande concentração de plásticos, garrafas, equipamentos, vidros, móveis, minério de ferro, dentre outros. “Em muitos casos observamos os resíduos em tamanhos originais, mas já verificamos resíduos micros e nano”, esclarece a pesquisadora. Os resíduos são confundidos com alimentos pelos peixes, caranguejos, botos, tartarugas e pássaros da fauna local.  “Outro problema é a falta de coleta de lixo nos espelhos d’água e próximo às praias costeiras e ilhas, já que as empresas de limpeza e as prefeituras não assumem o esse compromisso, já que as normas são restritas à limpeza urbana”, acrescenta a pesquisadora, que coordena o Núcleo de Pesquisa e Extensão: Urbano, Território e Mudanças Contemporâneas e integra o Programa de Pós-Graduação em Geografia e História Social da FFP/Uerj.

O estudo verificou a necessidade de mudanças urgentes de comportamento em relação aos descartes domésticos e dos restaurantes. Nas áreas onde predominam restaurantes e cozinhas domésticas a presença do óleo de cozinha usado nas águas de manguezais e praias é muito prejudicial à biodiversidade e às redes de drenagem de águas fluviais e de esgoto. Vários estudos internacionais e nacionais afirmam que o descarte inadequado do óleo de cozinha gera uma película - ou fase oleosa – na água e na terra. No caso da água, o óleo dificulta a troca de gazes com a atmosfera, reduzindo a disponibilidade de oxigênio na água, além de absorver a radiação solar e contribuir para o aquecimento do ambiente, com enormes danos à fauna e flora dos ecossistemas aquáticos, fluviais, marinhos e costeiros, podendo causar a morte da fauna e flora e o desaparecimento de espécies. Na terra, o óleo pode dificultar o desenvolvimento das plantas e atingir o lençol freático, podendo interferir na qualidade das águas subterrâneas.

 Em 2022, com apoio dos editais Cientista do Nosso Estado e Apoio à Melhoria das Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado do Rio de Janeiro, foi iniciado o levantamento junto às escolas públicas – municipais e estaduais - da região. Catia destaca dois exemplos de escolas que têm trabalhado no tema da preservação ambiental da região. Na Escola Municipal Prof. Vieira Fazenda, situada na Restinga de Marambaia, numa área de manguezais, os estudantes do Ensino Fundamental têm tido várias experiências e atividades sobre a proteção dos manguezais. Já a Escola Municipal Agostinho da Silveira Mattos, na Ilha de Janguanum, em Mangaratiba, mantém um trabalho intenso sobre o tema Lixo Zero. A pesquisadora explica que, no entanto, ambas as escolas necessitam de verba para a melhoria das ações de educação ambiental. Além disso, há necessidade de melhorar a estruturação das prefeituras para a coleta seletiva e envolver as comunidades pesqueiras em ações que contribuam para a mudança de comportamento e o desperdício de produtos que se tornam resíduos impactantes para o ambiente.  Neste sentido, chama atenção para a importância da participação social dos membros das comunidades locais e as atividades de educação ambiental nas escolas para contribuírem na transformação socioambiental da região,  tais como a ampliação da coleta seletiva, incluindo o óleo de cozinhas e os equipamentos eletroeletrônicos, junto com a participação das empresas de limpeza, catadores e prefeituras.

Deste modo, o projeto “Observatório Socioambiental de Sepetiba e Lixo Zero: Contribuições na Conscientização e Mudança Comportamental na Proteção Ambiental nas Escolas Públicas e Comunidades Pesqueiras de Jaguanum e de Barra de Guaratiba” foi contemplado no Programa de Educação Ambiental: Capacitação e Ações de Lixo Zero em Lagoas, Manguezais e na Região Costeira da FAPERJ. O objetivo da proposta é realizar atividades de pesquisa com mapeamento participativo, caminhadas ecológicas  e uso do aplicativo criado no âmbito do Observatório para delimitar as áreas de concentração de resíduos. Serão levantados documentos e legislações, visando a produção de materiais didáticos para a realização de oficinas sobre legislação de Política Nacional de Resíduos e saneamento básico com ênfase na coleta seletiva, nas escolas e nas comunidades pesqueiras.

Catia Antonia da Silva: para a pesquisadora, é necessário fazer também a coleta de lixo nos espelhos d’água e próximo às praias costeiras e ilhas

Como atividades de extensão, serão promovidas oficinas e a implantação da coleta seletiva e compostagem junto às escolas e comunidades pesqueiras. Outro aspecto importante é a identificação de iniciativas de gestores públicos, privados, educacionais e entidades sociais locais para a construção do engajamento e da mudança de comportamento em relação ao correto descarte de resíduos e à proteção ambiental.

As etapas principais envolvem organização do diagnóstico, construção da campanha lixo zero, o mapeamento participativo, a aquisição de equipamentos para a coleta seletiva nas escolas e nos pontos centrais nas comunidades pesqueiras da Barra de Guaratiba (Rio de Janeiro) e em Jaguanum (Mangaratiba), com auxílio das prefeituras que já manifestaram apoio ao projeto.

Os objetivos específicos relativos à campanha “Lixo Zero” e às atividades extensionistas envolvem a articulação de pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento, professores das escolas públicas, agentes municipais e das unidades de conservação, agentes do turismo comunitário, empresas, movimentos sociais e sujeitos locais nas ações de educação ambiental e desperdício zero em sinergia com os agentes e grupos das escolas, guias e turistas e comunidades pesqueiras de Jaguanum e Barra de Guaratiba.

Junto ao acervo digital socioambiental da Baía de Sepetiba, será elaborada uma base de documentos sobre os impactos do lixo na biodiversidade, pesquisadas e organizadas as diversas legislações sobre o assunto. Serão produzidos panfletos, materiais e jogos didáticos, realizadas caminhadas ecológicas, oficinas e seminário sobre o tema e promovidas nas escolas a estrutura da coleta seletiva, incluindo o óleo de cozinha, além da compostagem dos resíduos da merenda escolar. Todo o material levantado - fotografias e vídeos – será organizado no acervo. Nos períodos de alta turística, serão promovidos encontros dos estudantes, pescadores, instituições e empresas locais para construírem e promoverem ações de boas-vindas aos turistas, e durante as caminhadas ecológicas serão fixados avisos conscientizando-os a levar seu lixo de volta ao litoral. O projeto prevê ainda a realização do “Seminário Socioambiental da Baía de Sepetiba” sobre o tema “desperdício zero” articulado à rede Zero Waste International Alliance (ZWIA), à Rede Nacional Geografias da Pesca e à Rede socioambiental Brasil-Portugal (Braspor), visando à articulação entre as escalas local, regional, nacional e internacional das ações.

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