Claudia Jurberg
Lesões musculares são responsáveis pela diminuição do desempenho atlético, a retirada de competições importantes e a incapacidade vitalícia dos atletas (Foto: Ben Kerckx/Pixabay) |
Cerca de 350 atletas de alto rendimento e de diferentes modalidades esportivas foram avaliados por pesquisadores brasileiros e portugueses no que tange a interações entre possíveis genes, lesões e dores musculares. O estudo foi publicado, neste ano de 2024, no periódico International Journal of Molecular Sciences.
Pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Jamila Alessandra Perini explica que o estudo teve como objetivo investigar a relação entre fatores genéticos e o status atlético, lesões e dores musculares após exercício. Neste sentido, foram avaliados 172 atletas de alto rendimento com lesões comparados a 173 atletas que não tinham lesão e se tornaram, então, o grupo controle da investigação. Entre as modalidades esportivas, havia 129 atletas do rúgbi, 104 do futebol, 42 de esportes de combate, 28 do handebol, 25 do polo aquático, seis do remo, quatro do vôlei e sete de outras categorias.
A bioquímica conta que, nos últimos anos, fatores genéticos, particularmente os chamados polimorfismos de nucleotídeo único, têm sido associados ao desempenho atlético. O seu impacto na suscetibilidade a lesões relacionadas com o desporto é, no entanto, pouco conhecido.
Segundo Perini, o gene actinina alfa 3, popularmente conhecido como “gene da velocidade”, por exemplo, tem sido conectado de forma consistente ao desempenho atlético por meio de sua modulação de fenótipos relacionados ao esporte, incluindo adaptação e recuperação ao treinamento, bem como o risco de lesões. Já a amida hidrolase de ácidos graxos codifica uma proteína com o mesmo nome, que está associada à inflamação, estresse e tolerância à dor. Outro exemplo apontado por ela é o conhecido coativador 1 alfa do receptor ativado por proliferador de peroxissomos gama, que também codifica uma proteína com o mesmo nome e que regula a composição das fibras musculares e a adaptação muscular induzida pelo treinamento.
Neste estudo de caso-controle, os pesquisadores verificaram que, seis polimorfismos genéticos, previamente ligados ao desempenho atlético, e com papéis na função e/ou desempenho muscular, dor, inflamação e vias metabólicas, foram associados com a suscetibilidade às lesões e dores musculares após o exercício praticado pelos atletas.
Jamila Perini: de acordo com a pesquisadora, fatores genéticos têm sido associados ao desempenho atlético, mas seu impacto na suscetibilidade a lesões relacionadas com o desporto é ainda pouco conhecido (Foto: Divulgação) |
Os resultados mostraram que alterações genéticas nos genes actina alfa (rs1815739) e hidrolase de amida de ácido graxo (rs324420) foram considerados preditores independentes de lesão muscular após o exercício.
Perini aponta que a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas de elite gira em torno de 80%. Embora o tipo específico e a localização possam variar dependendo do esporte, as musculares são as lesões mais frequentemente observadas entre os atletas, responsáveis por 55% dos casos. Essas lesões compreendem distensões, entorses, contusões, luxações e rupturas, sendo as primeiras e as últimas mais prevalentes.
"As consequências das lesões musculares incluem a diminuição do desempenho atlético, a retirada de competições importantes e a incapacidade vitalícia. Além disso, os traumas também podem afetar a saúde mental e a resiliência dos atletas. Um enorme fardo econômico está associado ao diagnóstico e tratamento dessas lesões. Por isso, identificar aqueles com risco aumentado para este tipo de lesão e dores musculares, após o exercício, pode ajudar na adaptação de medidas profiláticas", diz a pesquisadora.
A pesquisa recebeu investimentos de cerca de R$ 240 mil da FAPERJ, além de uma bolsa de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científica e Tecnológico (CNPq), tema do projeto de mestrado e doutorado do bolsista Lucas Lopes. Segundo Perini, os dados deste e de outros estudos do grupo da Uerj, em colaboração com a Faculdade de Medicina de Lisboa, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e o Instituto Português de Oncologia podem auxiliar nas intervenções profiláticas para melhorar a qualidade de vida dos atletas.
Outro projeto desenvolvido pela pesquisadora Jamila Perini foi tema de vídeo do Canal da FAPERJ no YouTube.
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