Débora Motta
Kit do jogo Tapa Esperto: material didático apresenta expoentes da pesquisa nacional de forma lúdica e inclusiva aos estudantes da rede pública estadual fluminense (Fotos: Divulgação/UFF) |
Quem são os cientistas brasileiros? Um jogo didático desenvolvido na Universidade Federal Fluminense (UFF) responde a essa questão de forma lúdica, apresentando aos jovens em idade escolar grandes nomes que fazem e fizeram a ciência brasileira. “Os cientistas, muitas vezes, são retratados como homens brancos, de meia idade e jaleco, solitários em um laboratório. Essa visão estereotipada nos é apresentada na infância por meio de desenhos animados e permanece até a vida adulta, em novelas e filmes. O jogo apresenta cartas com informações sobre cientistas brasileiros, incluindo mulheres, indígenas, negros e pessoas com deficiência, buscando aproximar os jovens das carreiras científicas e da noção de diversidade na ciência”, justificou o professor Jean Carlos Miranda, coordenador do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências Naturais (Encina), do Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior (Infes/UFF), localizado em Santo Antônio de Pádua.
Denominado “Tapa Esperto – Cientistas do Brasil”, o jogo foi desenvolvido pela equipe do Encina, coordenada por Miranda, com recursos da FAPERJ, por meio do edital Apoio à melhoria das escolas da rede pública sediadas no Estado do Rio de Janeiro, no projeto A Ciência pede passagem: cientistas brasileiros (as), pesquisas transformadoras e contribuições para a sociedade. O material didático reúne 26 cartas com fotos de cientistas mulheres e 24 cientistas homens. Também há 50 cartas com informações sobre a vida e obra destes pesquisadores, além de quatro varetas em formato de mão, com ventosa. Em cada rodada, o mediador (professor) lê uma carta com as informações sobre um cientista. Os jogadores devem identificar, dentre as cartas distribuídas sobre a mesa, a carta do cientista a que se referem as informações lidas e tentar pegá-la “no tapa”, isto é, usando a vareta em formato de mão. O Tapa Esperto pode ser jogado por até quatro pessoas ou em equipe.
Maína Bertagna e Jean Miranda: ideia do jogo é despertar vocações científicas nos jovens e desmistificar a visão estereotipada da sociedade sobre quem são os cientistas brasileiros |
Entre os cientistas destacados nas cartas estão figuras icônicas, como a primeira mulher negra a se formar engenheira no Brasil, Enedina Alves; a biomédica Jaqueline Goes de Jesus, que coordenou a equipe que sequenciou o genoma do coronavírus, o educador Paulo Freire, o astrônomo Marcelo Gleiser, o físico e divulgador científico Ildeu Moreira de Castro, a escritora Conceição Evaristo, a botânica Graziela Barroso, a zoóloga e expoente na luta pelos direitos políticos femininos Bertha Lutz, e a primeira mulher negra doutora em Física no Brasil e primeira negra a lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Sonia Guimarães. “Nossa ideia foi mostrar ao público em geral que o cientista não é quem está apenas no laboratório. Todo mundo que produz conhecimento é um cientista: físicos, biólogos, químicos, antropólogos, educadores, sociólogos, oceanógrafos, literatos, geógrafos, e outros”, detalhou Miranda.
O Tapa Esperto é fruto de um projeto multicampi da UFF, que envolve a parceria com escolas públicas de cinco municípios do estado do Rio de Janeiro: Angra dos Reis (localizada na Costa Verde fluminense), Itaboraí, Maricá e Nova Iguaçu (Região metropolitana do Rio), e Miracema (Noroeste fluminense). “O projeto vai além do desenvolvimento do jogo, envolvendo diversas atividades de Divulgação Científica, como feiras e palestras, que realizamos ao longo de dois anos em parceria com docentes de escolas públicas da rede estadual e municipal nesses municípios”, explicou a coordenadora-geral do projeto, Maína Bertagna, professora do Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR/UFF).
Feira de Ciências realizada no Colégio Estadual Deodato Linhares, em Miracema: no cartaz à direita, a foto de Enedina Marques, primeira mulher preta a se formar engenheira no estado do Paraná |
Ela contou que a ideia do projeto surgiu durante a pandemia, inspirada pelo estudo “O que os jovens brasileiros pensam da Ciência e Tecnologia”, coordenado por pesquisadores da Fiocruz, como Luisa Massarani e Ildeu Castro. “Eles fizeram um levantamento que mostrou que os jovens têm uma percepção muito equivocada sobre quem são os cientistas brasileiros, e muitos não sabem nem citar os nomes dos principais expoentes da pesquisa nacional. Com o movimento mundial de descrédito da ciência e diante do avanço das fakes news, pensei em projetos que dialogassem com o público da Educação Básica, incluindo professores de Ciências”, explicou Maína.
O projeto envolve a participação de professores e pesquisadores da UFF em três campi: do IEAR/UFF de Angra dos Reis, do Infes/UFF de Santo Antônio de Pádua; e do Instituto de Biologia e da Faculdade de Educação no campus do Gragoatá, em Niterói. Além de Miranda e Maína, participam Mariana Lima Vilela e Simone Rocha Salomão, da Faculdade de Educação (FEUFF); e Carolina Nascimento Spiegel e Manuel Gustavo Leitão Ribeiro, do Instituto de Biologia (IB/UFF).
O jogo pode ser utilizado como ferramenta didática por qualquer educador interessado. Com o objetivo de popularizar o conhecimento sobre a vida e a obra dos cientistas presentes no jogo, foi criado o perfil @cientistas.br . As cartas que compõem o jogo didático estão disponíveis no artigo publicado no periódico Arquivos do MUDI.
As atividades realizadas no projeto podem ser conferidas no site: https://acienciapedepassagem.uff.br. Recentemente, foi publicado o e-book Educação em Ciências no encontro entre a Universidade e as escolas: experiências de extensão em terras fluminenses, que reúne as atividades e experiências partilhadas entre os diferentes campi da UFF e os municípios participantes do projeto, pela Metanoia Editora, que pode ser baixado gratuitamente no link: https://loja.metanoiaeditora.com/educacao-em-ciencias-no-encontro-entre-universidade-e-escolas?search=ma%C3%ADna&description=true