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Publicado em: 30/01/2025 | Atualizado em: 31/01/2025

Projeto de economia circular contribui para dar maior sustentabilidade ao setor têxtil

Marcos Patricio

Bárbara Manhães: ao perceber o volumoso descarte de tecidos, a designer recolocou na cadeia produtiva as sobras de materiais. Proposta é tornar o setor mais sustentável (Fotos: Divulgação)

Tornar o setor têxtil e de confecções do Brasil mais sustentável. A ideia pode parecer simples, mas é um desafio e tanto, se considerarmos que o País abriga a quinta maior indústria têxtil e é o terceiro maior produtor de malhas do mundo. Contribuir para sustentabilidade do segmento é justamente uma das propostas da Teciteca & Teci, um empreendimento de impacto socioeconômico e ambiental, apoiado pela FAPERJ, em operação desde 2023.

Combinando ações de economia circular e upcycling, a empresa, que se divide entre Itaperuna (RJ) e Vitória (ES), funciona como uma biblioteca de tecidos que seriam descartados. Apostando na circularidade, recoloca na cadeia produtiva as sobras de materiais, que, se não fossem tratadas de forma correta, acabariam parando no lixo. A Teciteca faz isso por meio da venda de tecidos de refugo. Rolos e pedaços de tecidos, além de retalhos, são recolhidos ou recebidos como doação de empresas dos mais diferentes portes, como tecelagens e confecções, bem como de costureiros e designers, para depois serem comercializados. 

A empresa também aplica o conceito de upcycling, fazendo a reinserção desses tecidos na cadeia de produção por meio de uma marca própria, a Teci, que confecciona produtos sustentáveis a partir dos tecidos de refugo. Em parceria com profissionais de criação são produzidos acessórios, peças de vestuário e de decoração e até coleções, dando a essas sobras de material uma nova destinação. Para doar, os interessados devem entrar no site <https://tecitecateci.lojavirtualnuvem.com.br/> e preencher um formulário. Para comprar tecidos ou os produtos da Teci, basta entrar no site, fazer um cadastro, escolher as peças e a forma de pagamento. Em 2025, o espaço ganhará um brechó. 

A Teciteca & Teci recolhe e recebe doações de tecidos que seriam descartados. O material é vendido por um preço acessível a criadores preocupados com a sustentabilidade do setor

“A ideia da Teciteca & Teci surgiu em 2019, enquanto eu estudava modelagem do vestuário, em Vilha Velha, no Espírito Santo. Durante o curso, percebi que havia um grande descarte de material têxtil não utilizado após o corte e a costura”, conta a designer Bárbara Manhães, 29 anos, criadora da empresa. “A partir daí, comecei a pensar em uma iniciativa, que pudesse abarcar o problema de sustentabilidade têxtil, evitando o descarte incorreto com o reúso, o reaproveitamento e a reciclagem desses materiais”, explica a empreendedora, também formada em Comunicação Social.

O desafio não é tão simples diante dos números do setor. Em 2023, a produção média do segmento no Brasil foi de 2,1 toneladas. Já a produção média de confecção foi de 8,07 bilhões de peças de vestuário, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Enquanto outros empreendedores optaram por comprar sobras de tecidos para depois revendê-las, o que muitas vezes acaba encarecendo o material, Bárbara escolheu um modelo de negócio diferente. A Teciteca & Teci baseia suas atividades no recolhimento e no recebimento de doações de tecidos. “Nosso foco é fazer com que esses materiais sustentáveis sejam acessíveis, especialmente a um público que necessite deles e os valorize. A ideia é fazer com que eles sejam acessíveis a pessoas que querem tornar suas produções mais sustentáveis, o que é um dos grandes desafios da indústria no Brasil”, afirma. 

Para estimular as empresas parceiras a enviar remessas com mais frequência, a Teciteca prevê, nesses casos, a possibilidade de lucro sobre a venda dos insumos ou dos produtos criados e comercializados pela Teci. Além disso, por meio do seu site e de suas redes sociais, dá visibilidade ao nome das empresas parceiras, mostrando o comprometimento delas com a sustentabilidade e com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A Teciteca também tem um caráter educativo e documental. A empresa está formando um museu têxtil digital, com um catálogo dos tecidos coletados, com acesso gratuito e aberto a criadores, profissionais da moda e a todos os interessados. No arquivo, já disponível no site da Teciteca & Teci, é possível consultar as indicações de uso e a gramatura e assim permitir a escolha correta dos tecidos para as criações.

A empresa criou uma biblioteca virtual de tecidos, que está disponível a profissionais da moda e a todos os interessados. Em 2025, será lançado o museu têxtil digital

A proposta é fazer desse espaço o primeiro museu do tecido aberto do Brasil, cujo acervo abrigará, também, obras de artes têxteis desenvolvidas por artistas e criadores nacionais e internacionais. A previsão é que ele estará totalmente implantado até o fim do primeiro semestre de 2025. “A frente museológica traz inovação cultural, principalmente, pela valorização artística de materiais que, tecnicamente, não possuem mais valor de mercado”, afirma a empreendedora, que nasceu em Itaperuna e hoje vive na Grande Vitória.

A inovação está abrindo novas portas à Teciteca & Teci, que está entre os 50 projetos selecionados pelo Programa Nacional de Apoio à Geração de Empreendimentos Inovadores – Programa Centelha 2 – RJ, que no Rio de Janeiro é uma parceria entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a FAPERJ. Os recursos serão utilizados para criar o parque produtivo da empresa, com a aquisição de máquinas de costura e de personalização de artigos têxteis e de outros materiais de infraestrutura de estoque.

Em breve, outras novidades deverão ser incluídas no projeto. Bárbara Manhães foi selecionada para participar do Leaders in Innovation Fellowships Global 2025, um programa oferecido pela Royal Academy of Engineering do Reino Unido, cuja proposta é desenvolver empreendedores e empreendimentos de impacto. A designer já está participando remotamente de mentorias e sessões de desenvolvimento de projeto, que seguem até março de 2025. Em junho, ela embarca para Inglaterra, onde serão realizadas as atividades presenciais do programa.

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