Claudia Jurberg
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| Estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Uerj apontou que o uso da Citrus aurantium, popularmente conhecida por laranja da terra, e um dos seus componentes ativos, a sinefrina, pode ser uma alternativa promissora para o controle de algumas disfunções relacionadas à obesidade (Foto: Freepik) |
Um grupo de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) dedica-se a estudos sobre o uso de Citrus aurantium, popularmente conhecida por laranja da terra, e um dos seus componentes ativos, a sinefrina, como uma alternativa promissora para o controle de algumas disfunções relacionadas à obesidade. Segundo os resultados publicados, em 2024, no periódico científico Frontiers in Nutrition, o uso do extrato da casca do fruto é benéfico para melhorar a disfunção do tecido adiposo marrom e os níveis de colesterol e triglicerídeos.
Ao contrário do tecido adiposo branco que armazena gordura, o tecido adiposo marrom queima triglicerídeos através de um processo que produz calor e eleva o metabolismo. Assim, substâncias que estimulem o tecido adiposo marrom e elevam o metabolismo são consideradas uma estratégia para perda de peso. O problema é que, na maioria das vezes, quando uma substância é encontrada, ela acaba por apresentar algum efeito colateral adverso sobre o sistema cardiovascular.
Como os mecanismos de ação do extrato da casca da laranja da terra na prevenção da obesidade ainda eram restritos a células, o grupo da Uerj, que estuda o tema há algum tempo, resolveu avançar para avaliar os efeitos em camundongos. Os resultados mostraram que, mesmo quando o extrato do fruto ou a sinefrina foram utilizados em baixa dose, reduziram a massa de tecido adiposo e melhoraram também a funcionalidade do tecido marrom sem impactar a pressão arterial, ao contrário do que acontecia, por exemplo, com o uso da efedrina, extraída da planta Ephedra sinica.
A cientista Elaine de Oliveira, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag/Uerj), explica que nos experimentos foram utilizados camundongos com obesidade, de 30 dias de idade, que corresponde ao período da adolescência dos animais. Os camundongos foram tratados com o extrato da laranja da terra e percentagens diferenciadas e com sinefrina isolada para avaliar a dosagem ideal. Os resultados sugerem que uso terapêutico desses compostos na dose ideal pode melhorar o perfil metabólico de adolescentes obesos sem efeitos colaterais cardiovasculares adversos.
O grupo com obesidade, hiperlipidemia e outros parâmetros alterados típicos da obesidade apresentaram uma melhora significativa com o tratamento pelos compostos, tanto com C. aurantium quanto com sinefrina, provavelmente pela reversão do branqueamento do tecido adiposo marrom e perda da sua função que é observado na obesidade.
"É importante ter cuidado ao extrapolar a terapia de animais para seres humanos, mas o conjunto de nossos resultados sugere que o uso tanto de C. aurantium quanto de sinefrina pode contribuir para a prevenção da obesidade em adolescentes. Neste período da vida, quando o sistema neurológico é ainda sensível a intervenções, pode ser uma boa estratégia terapêutica", explica Elaine, à frente dos estudos, que receberam investimentos da FAPERJ.
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| Elaine de Oliveira: pesquisadora está à frente de estudos que podem contribuir para a prevenção da obesidade em adolescentes (Foto: Arquivo Pessoal) |
Estudar estratégias de controle de peso e melhora do metabolismo em crianças e adolescentes é de fundamental importância visto o seu aumento exponencial nessa faixa etária. Em 2022, 14,2% das crianças brasileiras até cinco anos estavam com excesso de peso. Entre os adolescentes, o número era ainda maior: 31,2% deles estavam com sobrepeso ou obesidade. A obesidade é considerada uma doença crônica e multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, resultante de uma interação complexa entre fatores genéticos, metabólicos, sociais, comportamentais e psicológicos. Atualmente, a obesidade é um problema de saúde pública mundial, pois está associada a uma elevada suscetibilidade a doenças crônicas, como diabetes, níveis elevados de gordura no sangue, comprometimento cardiovascular e câncer.
A fisiopatologia da obesidade inclui resistência à insulina, inflamação crônica, estresse oxidativo e angiogênese disfuncional. O sobrepeso e a obesidade infantil triplicaram desde a década de 1970, e as taxas de obesidade grave mais que quintuplicaram no mesmo período, demonstrando um aumento da obesidade na infância e adolescência nos últimos anos. Esse aumento das taxas pode ser correlacionado a mudanças nos padrões alimentares, diminuição da atividade física, influências socioeconômicas e estresse fisiológico.
Inúmeros estudos de coorte, que associam a relação entre a exposição a um fator de risco e a ocorrência de uma doença, já mostraram que o sobrepeso na infância e adolescência é um preditor de obesidade na vida adulta, com alta correlação com o índice de massa corporal. Portanto, crianças e jovens com sobrepeso e com obesidade têm maior probabilidade de se tornarem obesos na vida adulta, o que reduz sua qualidade e expectativa de vida.
O próximo passo é um estudo randomizado, cruzado, duplo-cego com voluntários adolescentes atendidos pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj, para avaliar os efeitos do Citrus aurantium no sobrepeso e na obesidade. O projeto já aprovado pelo Comitê de Ética da Uerj prevê que, durante três meses, um grupo receberá cápsulas com Citrus aurantium e outro grupo receberá cápsulas placebo. A ideia é avaliar o peso corporal, índice de massa corporal, composição corporal, termografia corporal, perfil lipídico, homeostase glicêmica e hormônios tireoideanos.
