Claudia Jurberg
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Márcia Dourado: pesquisadora da UFRJ participou do estudo que comparou a autopercepção socioemocional em pessoas com Alzheimer leve e moderado sob a perspectiva de seus cuidadores (Foto: Arquivo pessoal) |
Como pacientes com Alzheimer e seus cuidadores percebem questões socioemocionais do cotidiano? Na literatura científica, há poucos estudos sobre a visão de pacientes com Alzheimer comparada a de seus cuidadores. Diante dessa limitação, um grupo de pesquisadores das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Federal de Santa Catarina (UFSC) foi investigar o assunto, comparando a autopercepção socioemocional em pessoas com Alzheimer leve e moderado sob a perspectiva de seus cuidadores.
Entre as principais conclusões do estudo, foi identificada uma diferença significativa entre as perspectivas dos cuidadores sobre o funcionamento socioemocional de pessoas com Alzheimer leve e moderado. Por outro lado, as diferenças na autopercepção entre os grupos leve e moderado foram mínimas.
A pesquisadora Márcia Cristina Nascimento Dourado, da UFRJ, explica que o projeto envolveu uma avaliação transversal de 102 pessoas com sintomas leves e 59 casos considerados moderados e seus cuidadores. Os acompanhantes incluídos no estudo foram os cuidadores principais dos pacientes, principalmente, membros da família como cônjuges e filhos.
Todos os participantes preencheram um questionário socioemocional com 30 tópicos e os cientistas avaliaram a cognição global, percepção da doença, gravidade da demência, funcionalidade, sintomas neuropsiquiátricos e carga do cuidador. O questionário media cinco dimensões da cognição socioemocional: empatia, reconhecimento de emoções, conformidade social, comportamento antissocial e sociabilidade.
Contrastes – Os participantes foram questionados sobre sua consciência emocional, comportamentos e personalidade, o que gerou crenças complexas associadas a autopercepções subjetivas. Os participantes com Alzheimer considerado leve e moderado apresentaram um padrão semelhante de percepção socioemocional de si mesmos. Eles só se diferenciaram nas áreas de raiva, do comportamento antissocial e na sociabilidade.
Em contraste, a perspectiva dos cuidadores sobre pessoas com Alzheimer leve e moderado mostrou diferenças significativas. De maneira geral, pessoas com Alzheimer moderado são mais dependentes nas atividades diárias, o que faz com que os cuidadores avaliem seu desempenho de forma mais negativa em relação a outras habilidades. Do ponto de vista dos acompanhantes, o desempenho das pessoas com doença de Alzheimer diferiu na percepção de emoções negativas, como nojo, medo e tristeza, mas não em sentimentos de raiva. Os pesquisadores também observaram diferenças significativas em tópicos relativos à empatia e à sociabilidade.
A originalidade do estudo brasileiro está na medição dos domínios socioemocional com portadores da doença e a comparação com a visão dos cuidadores. O estudo recebeu investimentos da FAPERJ e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e os resultados foram publicados no Journal of Alzheimer Disease and Associated Disorders, em 2024.
A FAPERJ vem apoiando outros projetos relacionados ao tratamento e prevenção da Doença de Alzheimer. Saiba mais no Canal da FAPERJ no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=xP4ZfhF9EGo&t=73s