Débora Motta e Marcos Patricio
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| Evento de lançamento da 5ª edição do Edital de Mobilidade Internacional FAPERJ-França atraiu grande número de interessados à BiblioMaison, no Rio. As assessoras da área de Relações Internacionais da FAPERJ, Beatriz Ramadas e Laura Soares, detalharam, em apresentação, as novidades do novo edital (Foto: Patrick Viegas) |
A cooperação científica entre Brasil e França ganhou novo impulso na manhã desta segunda-feira, dia 17 de março, durante a cerimônia de lançamento da 5ª edição do Edital de Mobilidade Internacional FAPERJ-França. O evento, realizado na BiblioMaison, no edifício do Consulado francês, no Centro do Rio, reuniu pesquisadores de diversas instituições de pesquisa e universidades fluminenses, além de gestores em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) e representantes do setor empresarial, para apresentação dos detalhes da nova chamada e um painel de experiências com pesquisadores contemplados na edição anterior. O edital destinará um total de recursos da ordem de R$ 420 mil para apoio à mobilidade internacional de pesquisadores e o prazo de submissão de propostas vai até o dia 28 de abril (leia aqui).
Na sessão de abertura, a conselheira adjunta de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França no Brasil, Sophie Jacquel, enfatizou a oportunidade que o novo edital representa para o intercâmbio entre pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa do Rio de Janeiro e da França. “A cooperação com o estado do Rio de Janeiro tem um lugar muito particular no coração da Embaixada da França e este edital conjunto com a FAPERJ contempla a mobilidade de pesquisadores em diversas temáticas, não apenas nas Ciências Sociais, mas também nas Exatas e da Saúde. Este ano de 2025 é o Ano do Brasil na França e da França no Brasil, em comemoração ao bicentenário das relações diplomáticas entre os dois países e esse edital é uma oportunidade para valorizar esse momento”, disse ela, em videotransmissão ao vivo do escritório da Embaixada da França, em Brasília.
A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, destacou a importância da continuidade do edital, que chega à 5ª edição estreitando os laços de cooperação científica bilateral e incentivando a mobilidade de pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento. “Este edital reforça nosso compromisso com a excelência na pesquisa e amplia as oportunidades de intercâmbio internacional, fortalecendo laços que beneficiam tanto o Brasil quanto a França. Ao longo dos anos, temos acompanhado o impacto positivo desse programa na formação de nossos pesquisadores e no desenvolvimento de projetos inovadores. Essa troca de conhecimento entre diferentes instituições e culturas acadêmicas é essencial para o avanço da ciência e tecnologia no estado do Rio de Janeiro. Estamos entusiasmados em dar continuidade a essa iniciativa, que já demonstrou ser um grande sucesso para a comunidade científica fluminense”, disse.
A diretora Científica da Fundação, Eliete Bouskela, que também é presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), falou sobre a importância do diálogo entre cientistas de diferentes nações para o desenvolvimento de uma cultura internacional de alteridade, de se colocar no lugar do outro e ter um olhar mais humano, além do desenvolvimento técnico-científico. “O conhecimento de novas culturas, que se estabelece com as viagens e a cooperação internacional, fortalece a produção técnica e científica. Porém, muito mais do que isso, ajuda a derrubar as barreiras no convívio humano. Estreitar os laços com outras culturas é uma forma de contrapor lacunas, conflitos e guerras no mundo atual”, ponderou Eliete, que é filha de imigrantes.
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| A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, assina o memorando de entendimento que oficializou o lançamento da chamada. A partir da esq. Eliete Bouskela, Caroline Vabret, Cristiane Salles (sentada) e Sophie Jacquel, no telão (Foto: Flavia Machado) |
Para a diretora do Centro Internacional de Pesquisa Terapêutica (CIRT) da Servier do Brasil, Cristiane Salles, o edital de Mobilidade Internacional FAPERJ-França potencializa os resultados das pesquisas estabelecidas nos dois países. “A Servier é uma fundação que trabalha com pesquisa e desenvolvimento de medicamentos inovadores e, para esse ecossistema de inovação ocorrer, a pesquisa deve ser colaborativa. Vivemos em um mundo com desafios como a transformação digital e tecnológica, o advento da inteligência artificial, e toda a incerteza geopolítica e transformações ambientais e demográficas. A colaboração em pesquisa e inovação é fundamental, seja entre instituições ou entre países”, refletiu Cristiane, que se dedica à pesquisa de medicamentos inovadores na Servier há 23 anos.
Após a mesa de abertura, houve a assinatura do memorando de entendimento que oficializou o lançamento da chamada, com a participação de Caroline Alves, Eliete Bouskela e da adida de Cooperação e Ação Cultural do Consulado da França no Rio, Caroline Vabret. Após a assinatura, as assessoras da área de Relações Internacionais da FAPERJ, Beatriz Ramadas e Laura Soares, apresentaram detalhes do edital, esclarecendo dúvidas dos pesquisadores presentes. “Temos um histórico de cooperação científica forte entre a França e o estado do Rio de Janeiro. Esse edital conjunto com a FAPERJ foi lançado pela primeira vez em 2019, teve suas segunda e terceira edições lançadas em 2022, após a pandemia, e sua quarta edição lançada em 2024”, recordou Beatriz. “Ao todo, foram 222 propostas recebidas até hoje, com 67 mobilidades realizadas entre França e Brasil, em 54 áreas de pesquisa, e envolvendo 57 instituições”, resumiu.
O evento também contou com o Painel de Experiências, no qual quatro pesquisadores contemplados no edital de 2024 falaram sobre a participação no programa, sobre os pesquisadores vindos das instituições francesas e os projetos desenvolvidos em parceria. As apresentações foram feitas pelos professores Daniel Gustavo Barci, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Paula Wojcikiewicz Almeida, da Fundação Getúlio Vargas (FGV); Sérgio Pereira Leite, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); e Ulisses Barres de Almeida, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Docente do Departamento de Física Teórica da Uerj, o professor Daniel Barci fez a mobilidade para o Laboratório de Altas Energias, da Universidade Sorbonne, durante o desenvolvimento do trabalho. A pesquisadora parceira foi a professora Leticia Cugliandolo, de Sorbonne, que veio para a Uerj. No painel, Barci apresentou um panorama do projeto “Integrais funcionais em processos estocásticos”, um trabalho sobre sistemas complexos, na área físico-matemática. “A finalidade do projeto é estudar propriedades matemáticas, que não estejam bem estabelecidas. O objetivo inicial é construir um modelo matemático consistente, que ainda não existe. O objetivo futuro é fazer aplicações concretas em diferentes áreas”, explicou.
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| No Painel de Experiências, os pesquisadores (a partir da esq.) Ulisses Barres, do CBPF, Daniel Barci, da Uerj, Sérgio Leite, da UFRRJ, e Paula Almeida, da FGV – contemplados na edição de 2024 do edital – falaram sobre sua participação prévia no programa (Foto: Marcos Patricio) |
Entender as influências entre Política e Direito foi a proposta do projeto “Narrações do sul global nos tribunais internacionais”, desenvolvido pela professora Paula Almeida, do Centro de Pesquisa de Direito Global (CPDG) da FGV, em parceria com o professor Jean-Marc Sorel, do Instituto de Pesquisa em Direito Internacional Europeu da Universidade Paris I (Universidade Sorbonne). Sorel fez a mobilidade reversa na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. “O projeto buscou analisar como os Estados contam suas histórias perante os tribunais internacionais. Estudamos a interação entre a Polícia e o Direito Internacional de forma a entender os fins estratégicos dos argumentos jurídicos que são levados aos tribunais internacionais”, resumiu Paula Almeida.
O estudo das relações financeiras que atravessam o processo de expansão da agricultura brasileira em comparação com a situação francesa foi o foco do projeto “Transformações recentes no meio agrário francês e brasileiro: das lógicas produtivas às estratégias de financeirização”, apresentado pelo professor Sérgio Leite, do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Estamos interessados em entender melhor a expansão do chamado agronegócio brasileiro, que não possui apenas uma dimensão produtiva, mas também uma dimensão que estamos chamando como financeirizada”, explicou Sérgio Leite, que desenvolveu o projeto em parceria com a professora Martine Guibert, da Universidade de Toulouse.
Já o pesquisador Ulisses Barres, do CBPF, apresentou o projeto “Explorando as sinergias entre o SWGO e o GRAND para a Astrofísica Multi-mensageira”, realizado em parceria com o professor Rafael Alves-Batista, do Instituto de Astrofísica de Paris (IAP), da Universidade Sorbonne, que recebeu Barres. O objetivo do trabalho foi estabelecer sinergias entre projetos desenvolvidos no Brasil e na França. “A proposta foi aproximar dois grandes experimentos internacionais: o SWGO, liderado pelo CBPF, e o GRAND, do Instituto de Astrofísica de Paris. Ambos na área de Astrofísica de Multi-mensageiros, astropartículas. Esses projetos tratam da mesma temática científica, mas com diferentes técnicas observacionais. Existe a possibilidade que eles atuem juntos, instalados na mesma localização (no Chile)”, resumiu Barres. O SWGO é apoiado pelo Programa de Apoio a Projetos Temáticos no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, desde 2019.
