Por Ascom Faperj
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Evento reuniu representantes do Poder Público e empreendedores dos cinco territórios contemplados pelo PISTA: Rocinha, Alemão, Maré, Cidade de Deus e Petrópolis (Foto: Patrick Viegas/FAPERJ) |
Empreendedores, gestores públicos, moradores e agentes comunitários lotaram na manhã desta terça-feira, 8 de abril, a quadra do Complexo Esportivo da Rocinha, na cerimônia que marcou o lançamento oficial do Programa Parque de Inovação Social, Tecnológica e Ambiental (PISTA) – Conectando Territórios Inovadores. O Programa é fruto de parceria entre a FAPERJ, a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), a Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas (ONU). O PISTA, que visa apoiar projetos de inovação social e desenvolvimento local nas comunidades da Rocinha, Alemão, Maré, Cidade de Deus e no município de Petrópolis, vai destinar, por meio da FAPERJ, até R$ 21 milhões para financiar projetos inovadores nesses cinco territórios. O prazo de inscrições para submissão online de propostas no edital segue aberto até o dia 27 de junho (confira aqui o edital).
O programa aprofunda o trabalho capitaneado pela FAPERJ em 2021, em um edital anterior, que tinha o objetivo de apoiar as bases para a estruturação de um Parque de Inovação na comunidade da Rocinha, e vai além. À época, foram apoiados 24 projetos de inovação social e desenvolvimento local, incluindo capacitação empreendedora e a criação de uma incubadora de empresas na comunidade. A partir dos resultados alcançados foi desenvolvida a metodologia PISTA, que agora será difundida para outros territórios. “O PISTA traz o conceito de inovação sustentável que promove a geração de renda e o fortalecimento de empreendimentos locais, tratando o território como um espaço para o desenvolvimento de inovações a partir das realidades locais, com o objetivo de criar soluções, produtos e serviços que possam ser potencializados e replicados”, disse o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, destacou o compromisso da Fundação para impulsionar o ecossistema de inovação fluminense e gerar impactos sociais diretos nos territórios contemplados pelo PISTA. “A FAPERJ vai repassar R$ 4 milhões para o desenvolvimento de projetos sociais inovadores em cada um desses territórios, na Rocinha, no Alemão, na Maré e na Cidade de Deus, e vai destinar R$ 2 milhões para projetos na cidade de Petrópolis. Cada projeto individual poderá solicitar até R$ 300 mil”, detalhou Caroline. “Outro esforço recente da Fundação nesse sentido foi o lançamento do Hub RJ Startup 2025, programa que vai destinar um aporte de R$ 12 milhões para startups inovadoras, e que em breve contará com uma sede própria no Catete, Zona Sul do Rio. O Hub RJ Startup 2025 segue com inscrições abertas até o dia 29 de abril”, acrescentou.
O secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Moraes, ressaltou a importância do PISTA e lembrou que, em março, a cidade de Petrópolis, um dos territórios contemplados pelo programa, foi oficialmente declarada como a ‘Capital Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro’. “O PISTA é hoje o maior programa de inovação social e tecnológica fluminense e trará impactos sociais diretos. Será um grande avanço para promover o empreendedorismo nesses territórios, dando oportunidades de geração de renda às pessoas e descobrindo novos talentos, independentemente de classe social, moradia e local de origem delas”, disse.
O secretário estadual do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou o fato de o Programa PISTA, que nasceu na Rocinha, estar sendo levado agora para outras comunidades e, principalmente, para Petrópolis, na Região Serrana. “Agora, o programa saiu dos muros da capital e está indo para o interior. Por que estamos levando o programa para Petrópolis? Porque hoje a cidade é a de maior vulnerabilidade relacionada a riscos geológicos e hidrológicos. Então, é importante realizar o PISTA lá também”, afirmou Rossi, lembrando a importância dos projetos ambientais que poderão ser apoiados pelo PISTA e o caráter inclusivo do programa.
O evento também contou com as presenças dos vereadores Diego Faro; e Rafael Satiê, presidente da Comissão Permanente de Combate ao Racismo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; do deputado estadual Fred Pacheco, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); e da subsecretária estadual de Ações Comunitárias e Empreendedorismo, Karol Mendez, entre outros.
Inovação social na Rocinha: transformando em realidade sonhos e projetos
Durante a cerimônia de lançamento do PISTA, diversos empreendedores expuseram ao público seus cases de inovação social. Um deles foi o coordenador do Torre Verde (@projeto_torre_verde), Giliard Barreto. Trata-se de um projeto de economia circular contemplado na primeira edição do edital lançado pela FAPERJ, o Apoio às Bases para o Parque de Inovação Social e Sustentável na Rocinha. Instalado em duas escolas na Rocinha, o sistema da Torre Verde inclui geração de energia através de placas solares, captação de água da chuva para irrigação automática de hortas e jardins suspensos, e transformação de resíduos orgânicos coletados nas cozinhas desses colégios em adubo, por meio de uma aceleradora de compostagem. “Tivemos ótima experiência no CIEP Doutor Bento Rubião e na Escola Municipal Luiz Paulo Horta, na Rocinha, levando essa conscientização ambiental a 770 crianças e reciclando nove toneladas de plástico. Vamos nos inscrever no edital PISTA para consolidar esse trabalho”, disse Barreto.
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Um mosaico com empreendedores que fazem a diferença na Rocinha: a partir do alto, à esq., em sentido horário, Marcelo Santos, do Sabão do Morro; Marinete Silva, do Cozinha de Mãe; Giliard Barreto, do Torre Verde; a artesã Márcia Cristina com a administradora Tainá Alcântara, do Nós do Crochê, e a presidente da FAPERJ, Caroline Alves (E), ao lado da artesã Ranúsia Barbosa, na sede do projeto; a professora Dalia Maimon, e (ao centro) a fundadora do Sabor do Rio, Patrícia Mello (Fotos: Débora Motta e Marcos Patricio/FAPERJ) |
O talento para a Gastronomia passou a ser fonte de renda desde cedo para Patrícia Mello, quando teve que fazer doces por encomenda, aos 16 anos, para sustentar os filhos. Moradora da Rocinha desde criança, ela coordena hoje, aos 47, o projeto “Sabor do Rio” (@sabor.do.rioo), que fornece serviço de catering (coffee breaks, almoços executivos e kit festas) para empresas e projetos sociais na comunidade. “Estamos inscrevendo pela primeira vez o Sabor do Rio no edital PISTA e esperamos que seja uma oportunidade de ampliar nosso negócio. Quero dar aulas de Gastronomia para mulheres da terceira idade que moram na Rocinha, e não têm chance de se inserir no mercado de trabalho. Que seja uma oportunidade para elas se reinventarem, como eu me reinventei com a Gastronomia”, contou Patrícia.
Outro exemplo bem-sucedido de empreendedorismo social é o projeto Nós do Crochê (https://nosdocroche.com.br/), coordenado por Daniela Vignoli e Heloisa Cyrillo, que vem transformando a realidade de mais de 60 mulheres, moradoras da Rocinha e de comunidades adjacentes, por meio da capacitação para o crochê e bordado. A artesã Márcia Cristina da Silva, de 55 anos, que trabalha há cerca de três anos no projeto, contou como o trabalho tem sido importante. “Hoje, pago todas as minhas contas apenas como artesã do Nós do Crochê. Esse trabalho surgiu num momento em que tive dificuldades para conseguir emprego, pela idade”, disse. As peças de crochê podem ser adquiridas também na loja física do projeto, localizada na Rua Bertha Lutz 84 - Loja A - Atelier - São Conrado.
Edital dá a empreendedores sociais chance de implantar e dinamizar projetos
O lançamento do edital trouxe aos empreendedores das comunidades envolvidas no programa uma nova perspectiva para implantar ideias inovadoras, bem como para dinamizar projetos já existentes. A expectativa é grande tanto entre aqueles que vão se candidatar pela primeira vez, como para aqueles que já participaram de outras chamadas.
Esse é o caso de Marcelo Santos, o Marcelinho do Projeto Sabão do Morro. Aproveitando a experiência adquirida no primeiro edital lançado pela FAPERJ na Rocinha, em 2021, Marcelinho concorrerá ao Programa PISTA para tentar ampliar o alcance do trabalho. Iniciativa de impacto socioambiental bem sucedida, o projeto já recolheu mais de 40 mil litros de óleo de cozinha, que deixaram de ser descartados de forma irregular, e foram transformados em uma linha de produtos de limpeza. Com isso, 1 bilhão de litros de água deixaram de ser contaminados. “Fomos contemplados no primeiro edital e a partir dessa participação, conseguimos estruturar melhor os projetos. Agora pretendemos nos candidatar e entrar em uma nova fase, empregando mais pessoas, retirando mais óleo do meio ambiente, trazendo mais educação ambiental e mais impacto positivo”, planeja Santos, que falou em nome dos empreendedores locais no evento de lançamento do novo edital.
Já a empreendedora social Marinete Silva participará pela primeira vez. Há oito anos ela está à frente do Cozinha de Mãe, também desenvolvido na Rocinha. Voltado à segurança alimentar, o projeto leva à comunidade informações sobre o aproveitamento integral dos alimentos e sobre a utilização das PANCs, as plantas alimentícias não convencionais. Muitas delas cultivadas nas lajes da segunda maior favela do Brasil. “Minha expectativa em participar do edital é bem grande. Vou tentar ao máximo ser selecionada. A saúde começa com uma boa alimentação e é através do Cozinha de Mãe que pretendemos contribuir para melhorar a alimentação dos moradores. A ideia é fazer oficinas e capacitações para que as pessoas aproveitem melhor os alimentos”, afirma a idealizadora do projeto, que atualmente reúne 30 pessoas. Os participantes se beneficiam com as oficinas e quando o Cozinha de Mãe atende algum evento, as pessoas obtém uma renda extra.
O lançamento do PISTA também foi acompanhado por pesquisadores experientes, como a professora Dalia Maimon, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No programa anterior realizado pela FAPERJ na Rocinha, a pesquisadora foi responsável por ministrar um curso de extensão em empreendedorismo, que formou cerca de 40 pessoas presencialmente e outras 100, à distância. “Foi um prazer e um privilégio ter dado o curso de empreendedorismo. Formamos empreendedores sociais, que são lideranças comunitárias, e empreendedores para o mercado, e vários deles estão aí liderando projetos”, explicou Dalia, que pretende concorrer ao edital. Sua expectativa é participar de um projeto estruturante na Rocinha e levar o curso de empreendedorismo para o Morro do Alemão ou Petrópolis.
O PISTA vai fomentar projetos inovadores nas seguintes áreas: energias renováveis, preservação de recursos naturais, educação, empregabilidade, atenção primária em saúde, arte e cultura, esporte e lazer, inclusão digital, saneamento básico, prevenção a desastres naturais, segurança pública e prevenção à violência, combate a todas as formas de discriminação, mobilidade e acessibilidade, assistência social e direitos humanos. Além dos recursos a serem investidos por meio da FAPERJ, está previsto o repasse de outros R$ 21 milhões, provenientes do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), que serão executados via PNUD.
Confira a íntegra do edital no link abaixo:
Edital FAPERJ Nº 07/2025 – Programa Pista: Conectando Territórios Inovadores