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Publicado em: 18/05/2023 | Atualizado em: 18/05/2023

Inovação e uso de sucata resulta na criação de bioimpressora

Claudia Jurberg

Bioimpressoras têm custos elevados, e, para os pesquisadores responsáveis pela iniciativa, protótipo feito de sucata pode ajudar países em desenvolvimento (Fotos:Divulgação)

A partir de sucata, um grupo pesquisadores do consórcio Rede Saúde, financiado pela FAPERJ, desenvolveu uma bioimpressora 3D de baixo custo. Os resultados desse primeiro protótipo, construído com eletrônicos velhos e metodologias de código aberto, foram publicados no periódico internacional Frontiers in Bioengineering and Biotechnology.

Diferente da impressão 3D comum que pode construir casas, próteses e diversos objetos, as bioimpressoras 3D utilizam células vivas e uma biotinta que mimetiza a matriz extracelular, que é o componente que une e fixa as células do nosso organismo.

O cientista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Luiz Anastácio Alves, um dos coordenadores do estudo, explica que as culturas de células 3D compreendem uma possibilidade promissora de bioengenharia para o tratamento alternativo da perda de função de órgãos. Ele ressalta que pacientes com doença em estágio terminal, por exemplo, podem se beneficiar do tratamento até o transplante de órgão ou até mesmo na regeneração da função do órgão, como no caso do fígado.

Em um futuro breve, a tecnologia poderá, inclusive, ajudar na diminuição das filas de transplante. Além disso, na redução à rejeição aos órgãos transplantados, já que poderão ser feitos com as células do próprio paciente. Outras funcionalidades incluem método para diminuir o uso de animais em pesquisa e teste de toxicidade ou testes para o desenvolvimento de novos fármacos, explica Evellyn Araújo Dias, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC/Fiocruz e também colaboradora do estudo.

Apesar da técnica promissora, existe um limitante: o alto custo. Anastácio Alves comenta que, atualmente, as bioimpressoras 3D podem produzir dezenas de tecidos e miniórgãos, mas, segundo ele, a maioria desses equipamentos possui custos bastante elevados. Assim, este tipo de protótipo pode ajudar vários países pobres ou em desenvolvimento.

Protótipo da bioimpressora criada pelos pesquisadores adota a linha dos equipamentos médicos e experimentais abertos em que toda a 'receita' para fazer a impressora está em um repositório aberto

"Os preços variam entre US$ 13 mil e US$ 300 mil dólares. Soma-se a isso, os custos dos produtos que são usados durante a impressão, também conhecidos como biotinta, podem variar de U$ 3,85 dólares a U$ 100 mil dólares por grama, apresentando-se como produtos de exclusividade para a aquisição e uso nas bioimpressoras. Esse mercado acaba sendo inacessível para muitos pacientes e/ou institutos de pesquisa", comenta.

Anastácio explica que todo esse valor é em decorrência da construção baseada nas estruturas de impressoras 3D modificadas para a construção do material biologicamente compatível. Por isso, os pesquisadores do consórcio Rede Saúde, financiado pela FAPERJ, resolveram inovar ao usar sucata. Formado por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Departamento de Imunobiologia da Universidade Federal Fluminense, do Instituto Federal do Rio de Janeiro, Inmetro, Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, da Coordenação de Engenharia , da Universidade Veiga de Almeida e da Sussex University, do Reino Unido, os membros da rede vislumbram o campo da bioengenharia em 3D com alto potencial e se propõem a contribuir, de forma efetiva, para um futuro próximo na produção de órgãos e tecidos multicelulares artificiais e a compreensão de mecanismos celulares complexos de forma mais acessível para a sociedade.

Esse tipo de impressora já foi utilizado na clínica com sucesso para construção de pele, córnea e cartilagem como prova de conceito, pois são tecidos que apresentam uma estrutura menos complexa, contudo ainda são necessários ensaios clínicos para plena utilização como forma terapêutica.

Evellyn Araújo Dias: para a mestranda, que colaborou com o estudo, bioimpressoras poderão contribuir para a diminuição do uso de animais em pesquisa e em testes para o desenvolvimento de novos fármacos

O protótipo adota a linha dos equipamentos médicos e experimentais abertos (open-source hardware), ou seja, toda a “receita” para fazer a impressora está em um repositório aberto. Com essa novidade, esperam democratizar o saber, pois qualquer um pode ter acesso ou modificar e com isso acrescentar informações a esse mercado de tecnologia tridimensional.

O campo da informática avançou muito devido aos softwares abertos que foram adotados até pelas “Big Tech” da área. O Brasil tem um déficit comercial na área de equipamentos usados no sistema de saúde acima de U$ 1 bilhão, o que pode diminuir com a fabricação local de vários equipamentos que ainda são importados.

Agora, o grupo da Rede trabalha em uma versão final da bioimpressora open-source com três cabeças de impressão, o que permitirá colocar três tipos celulares diferentes. Além disso, estão desenvolvendo uma nova biotinta de composição livre.

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