Por Ascom Faperj
Mesa de abertura: a partir da esq., Vania Paschoalin, Eliete Bouskela, Marge Tenório, Marcela Cunha e a assessora da Diretoria Científica da FAPERJ Luciana Lopes (Fotos: Lécio A. Ramos) |
Os resultados finais dos 20 projetos de pesquisa contemplados na 7ª edição do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS) foram apresentados em seminário realizado na terça e na quarta-feira, dias 26 e 27 de março, no auditório da tradicional Academia Brasileira de Ciências (ABC), Centro do Rio. O edital destinou cerca de R$ 6 milhões para apoiar a execução de iniciativas voltadas à formação de recursos humanos e à melhoria da qualidade de atenção à Saúde no estado do Rio de Janeiro, no âmbito dos atendimentos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O PPSUS é fruto de parceria entre a FAPERJ, o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (DECIT/MS), a Secretaria Estadual de Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Presente à mesa de abertura, na terça, a diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, disse que a realização do seminário é uma forma de prestar contas à sociedade dos resultados do edital e elogiou o fato da ABC abrir suas portas para o debate. “Todas as vezes que a academia se abre, tanto para o SUS ou para as empresas ocorre um avanço. Temos que fazer movimentos nesse sentido, pois em todos os países desenvolvidos há uma relação estreita entre o setor produtivo e a academia”, ponderou. Ela destacou a importância do edital, especificamente direcionado ao financiamento de pesquisas com temas prioritários para o SUS, e lançado pela primeira vez em 2005. “Vimos durante a pandemia causada pelo coronavírus que, se não fosse o Sistema Único de Saúde, a catástrofe teria sido infinitamente maior. Sou fã deste tipo de programa, e devemos ter novas edições do PPSUS, que só melhora as pontes com a sociedade”, completou.
Coordenadora do edital PPSUS na FAPERJ, Vania Paschoalin, que também é a chefe da Assessoria de Relações Internacionais, destacou o trabalho conjunto entre a Fundação e outros órgãos de fomento para viabilizar o orçamento da 7ª edição do programa. “Foram R$ 6,12 milhões outorgados, sendo metade desse valor outorgado pelo DCIT, do Ministério da Saúde, com interveniência do CNPq, e a outra metade repassada pela FAPERJ”, detalhou. E antecipou: “Já estamos nos preparando para a 8ª edição do PPSUS, a ser lançada provavelmente ao longo de 2024, que terá um orçamento ainda maior, de cerca de R$ 14 milhões, com metade a ser repassada pela DCIT e a outra metade via FAPERJ. Que os debates de hoje não só nos mostrem os resultados conquistados, mas que sejam subsídios para a elaboração dessa nova edição do PPSUS.”
A coordenadora nacional do PPSUS, Marge Tenório, agradeceu o protagonismo dos pesquisadores que concorreram à 7ª edição do PPSUS, em meio à pandemia. “Naquele momento, era difícil prever os resultados dos projetos, e esses pesquisadores aceitaram os desafios. O PPSUS só existe porque temos esses pesquisadores que militam em prol do Sistema Único de Saúde. É um fomento diferenciado, talvez o mais importante na área de Saúde, que gera resultados para as populações locais, com pesquisas aplicadas”, disse. “Como o programa executou tão bem os recursos no meio da pandemia, contando com a ação coordenada das secretarias de Saúde e das Fundações estaduais de Amparo à Pesquisa, temos uma segurança agora em aportar mais investimentos para a nova edição do PPSUS”, comemorou.
Patrícia Padilha, do Instituto de Nutrição da UFRJ, apresentou resultados da sua pesquisa sobre o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes |
Representando a secretária Cláudia Mello, a coordenadora de Pesquisa na Secretaria de Estado de Saúde (SES), Marcela Cunha, participou do debate. “O PPSUS é um programa tecido a várias mãos. Esse seminário é essencial para promover a incorporação desses produtos em Saúde e de tecnologias relevantes para o Estado”, avaliou, citando algumas iniciativas recentes da SES para a área científica, como a implementação de um Comitê de Ética em Pesquisa, do novo Plano Estadual de Saúde (2024-2027) e do periódico eletrônico Revista de Educação, Pesquisa e Informação em Saúde.
Temas estratégicos para a Saúde do Rio
Entre os 20 projetos apresentados, tiveram destaque pesquisas relacionadas à questão da obesidade em crianças e adolescentes. A professora Patrícia de Carvalho Padilha, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordou a Efetividade de um programa de intervenção comunitária para o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes na gestão compartilhada em Saúde em municípios fluminenses. Ela avaliou crianças obesas no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), observando complicações de saúde. “A obesidade envolve fatores complexos e diversos, questões endógenas e ambientais. Devemos implantar no estado centros de pesquisa colaborativa e de assistência, que tratem a obesidade como uma doença crônica”, alertou.
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ricardo Brandão de Oliveira compartilhou sua experiência à frente do projeto Fatores determinantes da prática de atividade física nos deslocamentos diários entre escolares – Uma abordagem intersetorial e multidisciplinar no enfrentamento da inatividade física e da obesidade. “No Brasil, 84% dos jovens de 11 a 17 anos não atendem a recomendação da Organização Mundial de Saúde de praticar ao menos 60 minutos de atividade física diariamente”, apontou. “As escolas devem discutir a ‘mobilidade ativa’, relacionada à decisão de se deslocar usando a energia do próprio corpo, em vez de optar pelo carro, por exemplo. Depois de entrevistas com jovens em idade escolar, vimos que o peso das mochilas, a segurança e o trânsito agressivo ao redor das escolas são fatores que desmotivam os alunos a andarem a pé”, completou.
A professora Maria Beatriz Trindade de Castro, nutricionista e epidemiologista do Instituto de Nutrição da Uerj, apresentou os resultados do projeto Criança verde é legal: direitos, saúde, nutrição e sustentabilidade. Ela defendeu uma alimentação com base no consumo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) e contou sobre seu trabalho de recuperação dos canteiros e revitalização de hortas escolares. “Introduzimos na alimentação das crianças plantas como taioba, malva e jaca verde”, disse.
Já os esforços científicos para a contenção da pandemia de coronavírus estiveram em foco na apresentação do pesquisador em Saúde Pública Marcos André Vannier dos Santos, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Ele falou sobre seu projeto Saúde Única na Covid-19: o engajamento comunitário e a promoção da saúde inclusiva no combate à pandemia. “Lidamos durante a pandemia com diversas questões, como a infodemia, termo criado pela OMS para designar o excesso de informações, algumas precisas e outras não, sobre o assunto, o que ajudou a gerar dificuldades de comunicação e rumores na sociedade sobre as recomendações científicas. No mundo, foram pelo menos 6,9 milhões de óbitos e no Brasil, mais de 710 mil óbitos”, recordou.
Os projetos aprovados na 7ª edição do PPSUS seguiram cinco linhas/eixos, conforme definido no edital: (1) Inovação para Sistematização de Dados em Saúde no Estado do Rio de Janeiro; (2) Rede de Atenção Oncológica no Estado do Rio de Janeiro; (3) Adesão às Linhas de Cuidado de Doenças Crônicas não Transmissíveis e Transmissíveis; (4) Saúde Materno infantil, da Mulher, Criança e do Adolescente; e (5) Inovação em Arboviroses com Ênfase em SARS-CoV2. Integraram a comissão de avaliação final dos projetos os professores Fabricio Freire de Melo, Andréa Valim e Alex Manhães.