Débora Motta, Marcos Patricio e Paula Guatimosim
A partir do alto, à esq., em sentido horário: Gabrielle Gautério; Daniel Lima; Sophia Prado; Marcus Fonseca e Fabíola Maranhão (Fotos: Divulgação) |
No último dia da Rio Innovation Week, sexta-feira, 16 de agosto, o estande da FAPERJ, montado no Armazém 4, vai receber o Demoday Doutor Empreendedor. Na programação, 16 empreendedores contemplados na edição 2022 do edital Doutor Empreendedor, lançado pela Fundação, vão expor seus projetos em pitches (apresentações) e compartilhar suas experiências de gestão. O edital Doutor Empreendedor chegou à sua quarta edição em 2024, fomentando a criação de empreendimentos de base tecnológica (startups) conduzidos por doutores (pesquisadores com formação no nível de Doutorado) residentes no estado do Rio de Janeiro, por meio da concessão de bolsa e auxílio financeiro.
Uma novidade do evento este ano será a presença de investidores convidados pela Diretoria de Tecnologia da FAPERJ, no Investor Day. Após os pitches, os empreendedores selecionados no Doutor Empreendedor 2022 poderão dialogar e estabelecer networking, possibilitando o fechamento de novas parcerias e negócios.
À frente da Nextone – startup voltada ao reaproveitamento dos resíduos das indústrias siderúrgica e de óleo e gás –, Marcus Vinicius Fonseca será um dos palestrantes no Demoday. Ele falou sobre a importância de ter sido um dos contemplados pelo Doutor Empreendedor. “Essa iniciativa da FAPERJ é extremamente relevante porque o Rio de Janeiro tem boa produção científica, mas deixa a desejar quando se observa a necessidade da transformação dessa produção acadêmica em negócios. Esse edital permite transformar o conhecimento em empreendedorismo, favorecendo a geração de novos negócios de base tecnológica”, refletiu.
A diretora-executiva e cofundadora da Bean Possible, Gabrielle Gautério, lembrou que o programa Doutor Empreendedor teve um papel importante para que sua ideia inovadora se tornasse um negócio. “Foi possível viabilizar o modelo de negócios, ter chancela para participar dos programas de capacitação e aceleração promovidos no âmbito do edital, além do apoio financeiro para a execução do projeto e bolsas”, contou. A startup desenvolve alimentos a partir de subprodutos agroindustriais, e tem como carro-chefe a transformação do subproduto do feijão (formado por pedaços quebradiços e indesejáveis do grão que não são aproveitados pela indústria) em matéria-prima para a fabricação de fibra, amido e proteínas vegetais, a serem utilizadas como base na composição de hambúrgueres veganos, por exemplo.
Doutora em Antropologia formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Sophia Prado é outra profissional apoiada pelo edital Doutor Empreendedor, que participará do Demoday. Ela apresentará a experiência da Bcome, uma plataforma que oferece soluções inovadoras para empresas dispostas a realizar ações de diversidade e inclusão. Entre outras atividades, a Bcome faz a aproximação entre empresas e pessoas de grupos minorizados ou sub-representados na sociedade e no mercado de trabalho. De um lado, pessoas negras, periféricas, mulheres, mães-solo, pessoas com deficiência (PCDs), aquelas com idade superior a 50 anos e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, que atuem como profissionais da Economia Criativa, podem se cadastrar gratuitamente na plataforma. De outro, empresas podem contratar, via assinatura, um conjunto de 10 soluções integradas, para fazer a gestão estratégica de suas ações de inclusão e diversidade. A plataforma permite, entre outras coisas, fazer recrutamento inclusivo, monitoramento e análise de dados, mapeamento das melhores práticas de mercado, definir metas e acompanhá-las em tempo real. “Muitas ideias inovadoras acabam se perdendo por falta de apoio. Não há como empreender na área de impacto social sem apoio financeiro. Então, um edital como o Doutor Empreendedor é o que torna possível projetos como o da Bcome”, afirmou Sophia Prado.
A Delta Entech desenvolve tecnologias para remediação ambiental a partir de soluções sustentáveis. Criada em 2021 pela pesquisadora Fabíola Maranhão, pós-doutora em Ciência e Tecnologia de Polímeros e CEO da empresa, a startup incubada na UFRJ é formada por uma equipe de nove pesquisadores – mestres e doutores – e desenvolve seus produtos nanoestruturados a partir do uso de matéria-prima residual. Entre seus principais clientes estão as empresas que oferecem serviços para remediação de danos ambientais, como o ocorrido após o rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho (MG). “A maioria das empresas se queixava do alto custo e pouca eficiência dos produtos descontaminantes, além das dificuldades de descarte do material contaminado resultante”, alega Fabíola Maranhão. É justamente esse é o grande diferencial da Delta Entech: um custo 50% mais baixo, eficácia de 90% e aproveitamento total do material resultante após o uso, que é utilizado para produção de revestimentos e tijolos ecológicos para a construção civil, favorecendo a logística reversa e a economia circular. Sampo, o principal produto da empresa, é um material polimérico altamente poroso, apresentado em grânulos ou barreiras de contenção, que remove óleos e metais pesados. Com o protótipo já demonstrado e validado em ambiente operacional (TRL7) a Delta Entech fechou acordo com o Porto de Santos (SP) e vai fazer a validação do modelo e oferecer a tecnologia ao mercado.
Fundada em 2022, a BioCorp Soluções Ambientais também desenvolveu soluções inovadoras e sustentáveis para resolver desafios ambientais. A startup é uma sociedade entre os doutores Daniel Vinícius Neves de Lima, biofísico; Allan Amorim dos Santos, microbiologista, o especialista em Gestão Ambiental Cesar Macedo Lima Filho, todos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e conta com o auxílio da bolsista de Iniciação Tecnológica da FAPERJ Nicole Ribeiro. O foco da empresa é a fitorremediação (limpeza) de corpos d'água a partir de plantas nativas brasileiras, tendo como desdobramento a produção de biofertilizantes e o sequestro de carbono. A ideia partiu da demanda de uma hidrelétrica de Minas Gerais, que buscava uma solução para o problema de crescimento de algas no reservatório. Daniel Lima explica que a contaminação dos corpos d’água é consequência, especialmente, da falta de saneamento adequado no País. “O esgoto descartado nos corpos d’água aliado ao clima tropical produz um excelente biofertilizante. Tanto as algas quanto as plantas remediadoras se beneficiam desse adubo”, explica o pesquisador. A taboa (Thypha domingensis) é uma das plantas macrófitas utilizadas pela BioCorp para inibir o crescimento de algas. A tecnologia pode ser uma ótima opção de baixo custo para ajudar a resolver o saneamento no Brasil, que possui apenas cerca de 2800 estações de tratamento de esgoto em todo o seu território. Essas plantas são também uma excelente fonte de matéria orgânica, rica em nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) e ainda capturam e armazenam carbono (CO2) na forma de biomassa. Com patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a BioCorp fará mais três apresentações na RIW. “Queremos ganhar maior visibilidade e mostrar ao mercado que tratar água pode gerar renda”, conclui Daniel.