Débora Motta
Aeronave Gripen: modelo adquirido pela FAB atinge uma velocidade de até 2.470 km/h e exige boas condições físicas dos pilotos de caça (Fotos: Divulgação) |
Pilotos de caça em início de carreira sofrem mais alterações metabólicas do que pilotos experientes, e esses impactos na saúde são amenizados ao longo da progressão na carreira, com o aumento do número de horas de voo cumpridas. Essa conclusão foi obtida a partir do monitoramento de pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), em estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Força Aérea (Unifa) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A pesquisa conta com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Ministério da Defesa, por meio do Programa de Cooperação Acadêmica em Defesa Nacional (Procad-Defesa), e da FAPERJ, e resultou na publicação de artigo na revista científica Metabolomics.
A profissão de piloto envolve condições extremas, como o estresse relacionado às longas horas de voo e os diversos impactos na saúde causados pelas altas altitudes e baixa gravidade. “A FAB tem se empenhado em criar protocolos para reduzir os riscos à saúde dos pilotos e melhorar a eficiência dos voos. Monitorar a saúde é o primeiro passo para avaliar como melhorar o desempenho físico e cognitivo desses profissionais”, destacou o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desempenho Humano Operacional da Unifa, Alexander Bomfim. “É preciso preparar o homem nos aspectos biopsicossociais, para suportar as exigências da máquina”, completou Bomfim. Recentemente, aeronaves Gripen foram adquiridas pela FAB. Produzidas por meio de uma parceria entre a empresa sueca Saab e a Embraer, elas voam a uma altitude de 15 Km e atingem a velocidade de 2.470 km/h.
No contexto do projeto interinstitucional, os pilotos de caça da FAB – que servem na Base Aérea de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e na Base Aérea de Anápolis, no estado de Goiás –, participam de uma bateria de exames médicos na Uerj. No Laboratório de Metabolômica da universidade, coordenado pelo professor Gilson Costa dos Santos Jr., foi realizada uma análise minuciosa do perfil metabólico dos aviadores. Ele desenvolve seus estudos com apoio da FAPERJ, por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado. “As análises revelaram que o grupo de pilotos com menos de 1100 horas de voo de combate sofreram mais alterações no metabolismo, especialmente nas células associadas às respostas do sistema imune, como as células brancas, neutrófilos e linfócitos, do que o grupo dos pilotos mais experientes, com mais de 1100 horas de voo”, resumiu Santos.
A partir da esq.: Alexander Bonfim, da Unifa; Paulo Farinatti, do Labsau/Uerj, e Gilson dos Santos Jr., do Laboratório de Metabolômica da Uerj |
Depois que atingem essa experiência de voo, tudo indica que o organismo vai se adaptando e reagindo com mais flexibilidade metabólica. “Entender isso é importante para monitorar como os sistemas imunológico e metabólico deles respondem a essas cargas de voo”, justificou o biólogo, com Pós-Doutorado na área de Metabolômica. Santos destacou que existe uma lacuna no estudo sobre o metabolismo de pilotos. “Sabemos muito pouco sobre as condições de saúde desses pilotos. Nas aeronaves, há baixos níveis de oxigênio, por isso eles usam máscara. Também enfrentam a gravidade, são espremidos nas cadeiras pela hipergravidade, e usam roupa especial para a circulação, de alta compressão eletrônica”, detalhou.
No Laboratório de Atenção à Saúde (Labsau) da Faculdade de Educação Física da Uerj, coordenado pelo professor Paulo Farinatti, é realizado o estudo de como a exposição contínua à gravidade pode afetar os indicadores da saúde cardiovascular, com apoio da Capes. “Orientei a tese de Doutorado desenvolvida pela professora Grace Barros de Sá, que hoje realiza estágio de Pós-Doutorado no Labsau. Ela descreveu na sua tese de Doutorado o controle autonômico dos pilotos diante do estresse gravitacional, causado pelas forças da gravidade durante o voo, bem como o efeito dessas modificações sobre o comportamento de variáveis hemodinâmicas”, contou Farinatti.
Contemplado pelo programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Farinatti ressalta a importância do caráter interinstitucional da pesquisa. “É interessante essa parceria entre uma instituição militar, a Unifa, e uma civil, a Uerj, ambas públicas. O projeto está gerando um conhecimento que pode se expandir, no futuro, e prevenir doenças em toda a categoria profissional de pilotos, sejam militares ou civis”, concluiu. O projeto também conta com a participação do Laboratório de Biologia Vascular (Biovasc/Uerj), coordenado pela professora Eliete Bouskela, onde a saúde microvascular dos pilotos é avaliada.