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Publicado em: 17/10/2024 | Atualizado em: 17/10/2024

‘Maternidade e Ciência’: simpósio discute desafios para equidade de gênero nas carreiras acadêmicas

Débora Motta

Mesa de abertura do simpósio: a partir da esq., Cristina Caldas; Denise Pires; Maria Lúcia Braga; Eliete Bouskela; e Fernanda Staniscuaski (Fotos: Débora Motta/FAPERJ)

Os desafios da maternidade para as mulheres que se dedicam à pesquisa e a luta pela equidade de gênero nas carreiras acadêmicas são tema do IV Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência, que teve início nesta quinta-feira, 17 de outubro, no Museu da Manhã, e vai até sexta, dia 18. Organizado pelo Movimento Parent in Science, o evento conta com o apoio do Instituto Serrapilheira e da FAPERJ. O encontro reúne acadêmicas e profissionais interessadas no tema, com um programa que inclui palestras, mesas-redondas e sessões de pôsteres, abrangendo tópicos como saúde mental na academia, políticas de permanência materna, diversidade e as perspectivas futuras da maternidade na academia e na ciência.  

Na mesa de abertura na manhã desta quinta-feira, a coordenadora do Movimento Parent in Science no Brasil, Fernanda Staniscuaski, recebeu convidadas para uma conversa sobre o cenário da parentalidade e, em especial, da maternidade dentro das instituições de fomento à pesquisa no Brasil. “Recebemos 370 inscrições para este simpósio, um bom número, o que demonstra o interesse das pesquisadoras em se discutir esse tema. A formulação de políticas públicas é fundamental para alcançarmos a equidade de gênero”, disse.

Primeira mulher eleita para a Presidência da Academia Nacional de Medicina (ANM) em 194 anos de atividades institucionais, e primeira a ocupar o cargo de diretora Científica na FAPERJ, Eliete Bouskela destacou a importância de uma compreensão mais ampla da parentalidade. “É preciso compreender as especificidades de ser uma mulher ou um homem com filhos, de forma responsável, porque a sociedade tende a massificar as pessoas. A questão da parentalidade e da igualdade de gênero é internacional. Na Academia Nacional de Medicina, dos 688 membros, apenas 10 são mulheres. Na Europa, só agora a Academia Nacional de Medicina francesa tem sua primeira presidente mulher”, refletiu.

Médica e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Eliete compartilhou sua experiência de vida no período em que morou na Suécia. “Na ocasião, cerca de 92% das mulheres na Suécia trabalhavam. Porém, no primeiro ano de vida da criança, é dito que a mãe deve desenvolver laços com o filho, e não são oferecidas creches. Qual carreira competitiva que uma mãe pode exercer, incluindo a de pesquisadora, se precisa se afastar por um ano do mercado de trabalho? Existiam poucas mulheres chefes de indústria e professoras titulares. Quando voltei ao Brasil, saiu uma série de artigos na Science, entre 2003 e 2004, constatando que mulheres só fazem carreira em países onde existe a figura da empregada doméstica. Eu estou aqui hoje porque tenho empregada e babá. Estamos muito longe de ter igualdade”, completou. Ela adiantou que a Fundação planeja o lançamento de um edital inédito para mulheres pesquisadoras com deficiência ou com filhos com deficiência.

A diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira, Cristina Caldas, falou sobre o comprometimento com a missão institucional de promover a inclusão e diversidade. “O sistema nacional de fomento à pesquisa deve tratar as pautas relacionadas à inclusão, o combate ao racismo e ao sexismo, como um elemento central, e não como pano de fundo”, ponderou. Ela citou que o Serrapilheira, que possui um fundo patrimonial de R$ 350 milhões, tem adotado iniciativas nesse sentido, como a concessão de bolsas-maternidade e a extensão dos prazos de contratos e de elegibilidade nas chamadas para mães pesquisadoras.  

Mãe pesquisadora, em 1º plano, no auditório do Museu do Amanhã: evento recebeu 370 inscrições de pessoas interessadas em discutir as questões da parentalidade e igualdade de gênero na academia

Integrante do programa Mulher e Ciência, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológica (CNPq), Maria Lúcia Braga ressaltou a necessidade da luta pela equidade e diversidade nas ciências no Brasil e citou iniciativas com esse objetivo. “Recentemente, em 2023, o CNPq lançou a chamada Atlânticas, que selecionou mulheres negras, pretas e pardas, quilombolas, indígenas e ciganas para desenvolver parte de suas pesquisas doutorais ou projeto de pós-doutorado no exterior, por meio de concessão de bolsas de doutorado-sanduíche. Também lançamos o edital ‘Meninas nas Ciências’, para as áreas de Exatas, Engenharias e Computação. E na chamada para as bolsas de Produtividade em Pesquisa (PQ) em 2024, o CNPq incluiu critérios voltados às questões raciais e da parentalidade”, disse.

A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires, que foi a primeira reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 2019 a 2023, falou sobre as desigualdades de gênero na pós-graduação brasileira e destacou a dificuldade das mulheres de galgarem cargos de chefia. “No Brasil, a maioria que ingressa como discente na pós-graduação é feminina, 54% do alunado. Mas entre os docentes, as mulheres ocupam menos da metade dos cargos de professor. A ascensão feminina é limitada aos postos mais elevados da estrutura acadêmica. Esse é chamado ‘efeito tesoura’”, explicou. Entre as iniciativas da Capes para a diversidade, Denise citou o Prêmio Futuras Cientistas, para incentivar a participação feminina nas áreas de Exatas, destacando-se Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).

Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente da Comissão Permanente de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ, Leticia de Oliveira refletiu sobre a importância de se debater o tema no meio acadêmico e na sociedade. “Este simpósio é fundamental para refletirmos sobre o impacto da parentalidade, em especial da maternidade, sobre a carreira das cientistas. Ainda mais importante é a sugestão de criar ou aperfeiçoar as políticas que já existem para apoio às cientistas mães. A FAPERJ tem sido uma agência de fomento inovadora em ações deste tipo, pois lançamos um edital exclusivo a cientistas mães, uma política importante para amenizar a perda de mulheres na ciência que pode ocorrer após o nascimento de filhos”, ponderou.

À tarde, uma mesa temática discutiu os efeitos do programa Apoio às Cientistas Mães com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, lançado em maio pela FAPERJ, em parceria com o Instituto Serrapilheira e com apoio do movimento Parent in Science. Trata-se do primeiro edital de apoio a mães cientistas organizado por uma agência de fomento à pesquisa no Brasil. A iniciativa busca apoiar a continuidade da carreira acadêmica de mulheres no período pós-maternidade. Quase 100 cientistas brasileiras que são mães acabaram de ganhar um financiamento de R$ 6,2 milhões para apoiar suas pesquisas. A seleção previa, inicialmente, apoio a cerca de 21 pesquisadoras, mas por conta da alta demanda de inscrições e da qualidade dos currículos, o programa foi ampliado, contemplando 98 cientistas. 

O presidente da Fundação, Jerson Lima, destacou que o edital foi planejado para atender as necessidades das cientistas que encontram dificuldade de retornar, ou mesmo de dar início, a uma carreira acadêmica mais consolidada após o nascimento de filhos. "Trata-se de uma política pública importante para apoiar nossas cientistas e minimizar a desigualdade de gênero. Recebemos uma grande demanda qualificada para este edital. A FAPERJ tem orgulho de ser pioneira neste tipo de programa, dentre as agências de fomento do Brasil", ponderou.

O simpósio discutiu ainda diversas temáticas, como “Saúde Mental na Academia”, tema de palestra da psicanalista Vera Iaconelli. No dia 18, às 18h, Letícia Oliveira estará presente na sessão de autógrafos do livro Mulheres na Ciência: O que mudou e o quanto ainda precisamos mudar, publicado em parceria com Tatiana Roque, ex-secretária municipal de Ciência e Tecnologia. A obra reúne artigos e entrevista de cientistas e pesquisadoras mulheres brasileiras, que contribuem para o diagnóstico de onde se dá a maior desigualdade de gênero para, a partir daí, propor políticas públicas e mudanças institucionais que acolham os anseios de quem entra na academia.

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