Paula Guatimosim
O objetivo do projeto é subsidiar prefeituras para que elas possam delinear políticas públicas e adotar ações de mitigação de emissões (Imagens: transporte-carbonozero) |
As emissões de dióxido de carbono (CO2) são um dos principais fatores que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Os maiores responsáveis pelo aquecimento são os combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, queimados para gerar energia e eletricidade. As emissões têm se agravado nos últimos anos. Pesquisa do Global Carbon Project indica que mais de 50% das emissões de CO2 em todo o mundo ocorreram nos últimos 30 anos, de 1990 a 2019.
Uma equipe de pesquisadores do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ) promete auxiliar os municípios fluminenses a identificarem e quantificarem as emissões decorrentes da queima de combustível fóssil e desenvolverem políticas públicas que minimizem o problema. O projeto, intitulado Desenvolvimento de metodologia de baixo custo para mensurar, reportar e verificar as emissões CO2, MP e Consumo Energético em Transporte Urbano, coordenado pela pesquisadora Cintia Machado de Oliveira, foi contemplado no Programa de Apoio a Projetos Científicos e Tecnológicos em Mobilidade Urbana-2021, da FAPERJ. Também integram a equipe idealizadora do projeto o professor Rodrigo Rodrigues de Freitas e a doutoranda no Programa de Engenharia de Transportes do Instituto Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), na linha de pesquisa de Cidades e Mobilidade, Joyce Azevedo Caetano.
“Nosso objetivo é disseminar conhecimento técnico-cientifico para os agentes públicos, por meio de uma metodologia que permita às prefeituras mensurar as emissões decorrentes do transporte de carga e de passageiros, para que possam delinear políticas públicas e adotar ações de mitigação”, esclarece Cintia.
Doutor em Engenharia de Transporte, Rodrigo Rodrigues explica que os veículos movidos a diesel são os que mais poluem, mas o projeto mensura não apenas a emissão de dióxido de carbono (CO2) como também a poluição atmosférica provocada pelo material particulado decorrente do atrito entre pneus e asfalto e do acionamento dos freios, além do consumo energético.
Pesquisa do Global Carbon Project revela que mais de 52,74% das emissões de CO2 em todo o mundo ocorreram nos últimos 30 anos |
“Desenvolvemos um painel, que será oferecido às prefeituras a baixo custo, que simula diversas situações a partir de uma base de dados”, explica Rodrigues. Segundo o professor, os dados nacionais e municipais foram coletados na Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e no campo, envolvendo indicadores desde 2001. Com base nas informações disponibilizadas no painel, as prefeituras poderão avaliar suas vulnerabilidades e terão uma justificativa para fazerem investimentos em infraestrutura, como corredores de ônibus, e poderão adotar soluções mais sustentáveis para a mobilidade urbana, como o uso de veículos elétricos ou a biodiesel, e demais tecnologias menos poluentes.
“O Brasil domina a tecnologia de produção de biodiesel. Se nossos veículos fossem movidos com este combustível, o país estaria anos-luz à frente na corrida mundial pela redução das emissões”, alega Cintia.
A equipe do projeto Transporte Carbono Zero aguardou o resultado do segundo turno das eleições para apresentar o projeto às prefeituras dos municípios fluminenses. As primeiras cidades a adotarem o sistema serão Rio de Janeiro, Itaguaí, Búzios, Cabo Frio e São Pedro D’Aldeia. Cada município poderá desenvolver um banco de dados para acompanhar e comparar emissões. Para que os gestores dominem o sistema e a utilização do painel de dados, a equipe prevê realizar a capacitação para o uso da planilha, que será sempre atualizada.
O projeto foi conduzido no Laboratório de Simulação Numérica (LabSIM) do CEFET/RJ – campus Itaguaí, que conta com 13 computadores e demais infraestrutura a fim de contribuir para o alcance de resultados que necessitam de softwares na sua aplicação e para desenvolvimento de equipes interdisciplinares.
Acessando a página do projeto é possível ter uma ideia da dimensão do estudo. Ao clicar em ‘painel de dados’, o usuário pode acessar o ‘painel de dados em sustentabilidade em transporte’ e filtrar pelo ano ou período desejado (botão à esquerda), cidades específicas ou a totalidade dos municípios e ter acesso aos dados de emissões. No estado do Rio de Janeiro 40% da frota circulante (transporte coletivo ou particular) é movida a diesel, dos quais 12% concentrados na capital. Os ônibus representam 4,33% do total dos veículos movidos a diesel. Em 2023, as emissões totais de CO2 do estado foram de 7,04 bilhões de kg/ano, sendo o diesel responsável por 6,24 bilhões de kg/ano e biodiesel por 800 milhões de kg/ano.
Cintia e Rodrigo: os pesquisadores desenvolveram painel, a partir de uma base de dados, que permitirá os municípios monitorarem as emissões de CO2, de material particulado e o consumo energético dos veículos movidos a diesel |
Desde 2007, a adição do biodiesel na composição do diesel foi responsável pela redução de 6,6% das emissões diretas de CO2 em transporte de carga e passageiros. A adição está aumentando periodicamente, iniciando em 2%, e em 2024 está em 14%. Essas mudanças contribuíram para o desenvolvimento de uma motorização mais eficiente. A inserção de veículos híbridos e elétricos, confirma tendência de redução de CO2 nos próximos anos", esclarece Cintia.
Para que os gestores dominem o sistema e a utilização do painel de dados, os pesquisadores irão realizar a capacitação para o uso da planilha, que será sempre atualizada. A equipe do projeto também está comemorando a aprovação pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do primeiro curso de pós-graduação stricto sensu do Brasil com parte das suas atividades na modalidade a distância. Trata-se do mestrado profissional em Energia e Sociedade do Cefet-RJ, cuja proposta foi considerada inovadora pelo colegiado da Capes, atendendo a todos os critérios que asseguram a qualidade na oferta do curso. Uma das características é que a formação não se dará apenas pela educação a distância, mas 40% das atividades serão presenciais para orientação, pesquisa e aulas e apenas 18% do curso será ministrado de forma assíncrona, ou seja, sem a presença ao vivo do professor.