Claudia Jurberg
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Armando Meyer: estudo realizado pelo pesquisador constatou que gestantes e seus recém-nascidos estão expostos a vários poluentes orgânicos persistentes, mesmo após décadas de seu banimento no Brasil (Foto: Divulgação) |
Mais de 20% das amostras de sangue materno e 15% das amostras de sangue de cordão umbilical, coletadas em uma maternidade da cidade do Rio de Janeiro, apresentaram níveis detectáveis de DDE, um subproduto do famoso inseticida "DDT" – criado na primeira metade do século XX na Europa e que inicialmente foi usado para combater mosquitos transmissores de malária.
O DDT não é mais utilizado no Brasil há cerca de 30 anos. Seu impacto sobre o desenvolvimento fetal e infantil até os quatro anos de vida é foco do Projeto Infância e Poluentes Ambientais (PIPA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenado pela professora Carmen Froes Asmus. A pesquisa conduzida por Armando Meyer, professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, analisou 139 amostras de plasma sanguíneo materno e 116 amostras de sangue do cordão umbilical, além de 40, 47 e 45 amostras de leite materno nos 1º, 3º e 6º meses após o parto.
Os níveis de DDT foram mais altos entre mulheres com IMC pré-gestacional ≥ 30, que eram não brancas e mais velhas (idade > 40). Recém-nascidos com pontuação de Apgar ≤ 8 no quinto minuto de vida apresentaram níveis significativamente mais altos de DDT no sangue do cordão.
“Nossos resultados mostraram que gestantes e seus recém-nascidos estão expostos a vários poluentes orgânicos persistentes, mesmo após décadas de seu banimento no Brasil. Embora as taxas de detecção e concentrações da maioria tenham sido baixas, é possível afirmar que as gestantes e seus recém-nascidos que vivem em uma área metropolitana da cidade do Rio de Janeiro estão expostos a essas substâncias, e o conhecimento sobre seu impacto no desenvolvimento infantil ainda é uma questão a ser resolvida”, afirma Meyer.
No Brasil, poucos estudos já examinaram a concentração de poluentes orgânicos persistentes em grávidas e cordão umbilical. A pesquisa recebeu financiamento da FAPERJ e os resultados deste estudo foram publicados no periódico International Journal of Enviroment Research Public Health.
Devido aos potenciais efeitos prejudiciais dessas substâncias na reprodução e no desenvolvimento humano, a exposição a esses produtos, especialmente em grupos vulneráveis, como gestantes, mulheres que pretendem conceber e recém-nascidos, precisa ser investigada em uma amostra populacional maior, alerta Meyer.