Cristina Cruz
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Educação ambiental: projeto permitiu que cerca de 780 crianças de 4 a 12 anos participem de aulas sobre sustentabilidade, economia circular e preservação ambiental (Fotos: Divulgação) |
Na Rocinha, uma das maiores comunidades da América Latina, inovação, tecnologia e sustentabilidade se entrelaçam em um projeto que vem transformando vidas e promovendo desenvolvimento socioambiental: a Torre Verde. Localizado no pátio entre o CIEP Doutor Bento Rubião e a Escola Municipal Luiz Paulo Horta, na Estrada da Gávea nº 522, na Zona Sul do Rio, o equipamento de 12,5 metros de altura é mais que uma horta na laje – é um símbolo de economia circular e tecnologia social.
Inaugurada em outubro de 2022, a Torre Verde reúne, em uma única estrutura de quatro andares, geração de energia solar, captação de água de chuva para irrigação, hortas urbanas verticais e um sistema acelerado de compostagem que transforma resíduos orgânicos em adubo em apenas 45 minutos. O projeto é financiado pela FAPERJ e conta com o apoio técnico da AAA_Azevedo Agência de Arquitetura e do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Impacto para o futuro
Após dois anos de operação, a Torre Verde provou ser um modelo viável de tecnologia social, com potencial para ser replicado em outras comunidades no Brasil e no mundo. A ampliação do projeto pode levar à comercialização de créditos de carbono, fortalecendo a sustentabilidade econômica da iniciativa.
Ao transformar resíduos em adubo, captar energia solar e produzir alimentos saudáveis em plena Rocinha, a Torre Verde não apenas eleva o padrão de sustentabilidade na comunidade, mas também reforça a capacidade de inovação e resiliência de seus moradores. É um exemplo claro de que tecnologia e inclusão podem andar de mãos dadas para construir um futuro mais verde e justo.
FAPERJ aposta na transformação social através da inovação
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Horta na lage: ao transformar resíduos em adubo, captar energia solar e produzir alimentos saudáveis em plena Rocinha, a Torre Verde contribui para elevar o padrão de sustentabilidade na comunidade |
A transformação da Rocinha em um polo de inovação social e ambiental ganhou um importante aliado com o apoio da FAPERJ. Através do PISTA (Parque de Inovação Social Tecnológico e Ambiental), a comunidade tem recebido investimentos em projetos que integram ciência e tecnologia ao cotidiano dos moradores, promovendo soluções sustentáveis e oportunidades de desenvolvimento.
“A FAPERJ acredita que a ciência e a tecnologia são poderosas ferramentas de transformação. O que estamos vendo na Rocinha é a materialização desse potencial. Ao investir nesses projetos, estamos oferecendo às pessoas mais do que soluções tecnológicas, estamos oferecendo oportunidades de mudança real em suas vidas e na de suas famílias”, afirmou Caroline Alves, presidente da Fundação.
Desde o início do programa, iniciativas como o Rocinha Solar e o Horta na Laje têm sido essenciais para engajar os moradores e transformar realidades. O Rocinha Solar, ao instalar uma miniusina solar, não apenas gera energia sustentável como também capacita os moradores em instalação de placas solares, gerando economia e novas perspectivas profissionais. Já o Horta na Laje ressignifica espaços subutilizados, transformando-os em áreas de cultivo urbano que produzem alimentos frescos, enquanto promovem educação ambiental e práticas de agricultura sustentável.
Cultura e empreendedorismo como alavancas sociais
A criatividade também é destaque entre os projetos apoiados. O programa de cinema comunitário, por exemplo, capacita jovens em técnicas de produção audiovisual, permitindo que contem as histórias da comunidade através de curtas-metragens. Essa iniciativa não apenas dá voz à Rocinha, como também amplia a representatividade da favela no cenário cultural.
Outro destaque do PISTA é a Beco Incubadora Criativa, localizada na Biblioteca-Parque da Rocinha. O espaço tem sido um ponto de partida para moradores que desejam transformar ideias em negócios. Com mentorias, capacitações e acesso a mercados, a incubadora já auxiliou cerca de 390 pessoas a desenvolverem startups e pequenos empreendimentos. Além de impulsionar a economia local, o Beco se tornou um centro de troca de conhecimento e formação de parcerias.
Visão para o futuro
A meta do PISTA é se tornar uma referência nacional em inovação social e tecnológica, mostrando que é possível integrar desenvolvimento sustentável e protagonismo comunitário. Segundo José Alberto Aranha, idealizador do projeto, o sucesso da Rocinha serve de exemplo para outras comunidades: “Queremos mostrar que ciência e tecnologia podem andar de mãos dadas com o poder da comunidade. A Rocinha tem tudo para ser um modelo replicável de inovação e sustentabilidade em outras regiões do Brasil.”
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Tania Oliveira (à esq.) foi uma das fundadoras do projeto Horta na Lage e Maria do Socorro, colhendo sua Kodema, usa técnica japonesa de jardinagem que traz inovação e sustentabilidade para a comunidade |
Moradores da Rocinha já colhem seu próprio alimento com o projeto Torre Verde
Tânia Oliveira, moradora da Rocinha e uma das fundadoras do projeto Horta na Laje, começou a plantar hortaliças durante a pandemia. “Eu vi que deu certo e resolvi seguir em frente”, conta. Com o apoio do projeto Torre Verde, a iniciativa se expandiu e hoje atinge diversas áreas da comunidade, envolvendo principalmente as crianças.
O Torre Verde tem como foco despertar a conscientização ambiental desde cedo, ensinando as crianças a plantarem e colherem alimentos de qualidade. Além disso, o projeto também incentiva práticas sustentáveis, como a reciclagem. “O principal objetivo, além do respeito ao meio ambiente, é incentivar as pessoas a plantarem com consciência. Uma garrafa, por exemplo, que está poluindo o meio ambiente, pode abrigar uma hortaliça”, destaca Tânia.
Com essa iniciativa, o projeto não só contribui para a alimentação saudável, mas também para a formação de uma comunidade mais consciente e engajada na preservação ambiental.
Negócios de sucesso
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Patricia Alexandre: moradora da Rocinha, ela teve a oportunidade de expandir sua empresa de catering com a consultoria que recebeu da incubadora Beco |
Patrícia Alexandre, de 47 anos, nasceu na comunidade da Rocinha e transformou sua paixão pela gastronomia em um negócio de sucesso. Há 10 anos, ela é proprietária da Sabor do Rio, empresa especializada em catering que atende eventos com excelência. Apesar de toda sua habilidade na cozinha, Patrícia enfrentava dificuldades para precificar corretamente seus serviços e se posicionar no mercado.
“Eu tinha muita insegurança em relação à gestão do meu negócio. Não sabia como precificar meu trabalho de forma justa e isso me prejudicava. Foi quando conheci a Beco e tudo mudou”, relata. “As consultorias e orientações que recebi me ajudaram a superar minhas dificuldades e a entender o verdadeiro valor do que faço. Hoje, administro meu negócio com confiança.”
Com o fomento da FAPERJ, moradores da Rocinha que participam da incubadora Beco têm a oportunidade de estruturar e expandir seus próprios negócios, realizando sonhos e promovendo transformação na comunidade.
Para se inscrever em qualquer curso basta ir até a Biblioteca C4, localizada na Estrada da Gávea, 454, Rocinha, Rio de Janeiro.
Como funciona a Torre Verde
A estrutura combina diferentes processos sustentáveis em um espaço de 5m x 5m:
• Energia limpa: oito placas solares geram até 470 kWh por mês, contribuindo para a autossuficiência energética da torre.
• Compostagem acelerada: até 90 kg de resíduos orgânicos são processados diariamente, transformando lixo em adubo de alta qualidade.
• Hortas suspensas: com uma área total de plantio de 54,7 m², a torre produz mensalmente 20 kg de alimentos como verduras e legumes, número que pode chegar a 50 kg com a expansão do cultivo vertical.
• Captação de água de chuva: o sistema reduz a dependência de recursos hídricos externos, destinando a água captada para irrigar as plantas.
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Isabella Botelho, coordenadora da Beco Incubadora Criativa: com mentorias, capacitações e acesso a mercados, a incubadora, localizada na Biblioteca-Parque da Rocinha, já auxiliou cerca de 390 pessoas a desenvolverem startups e pequenos empreendimentos na comunidade |
Além disso, a torre promove práticas de economia circular ao reduzir a quantidade de resíduos descartados irregularmente na comunidade, contribuindo para a melhoria do meio ambiente e da saúde pública.
Benefícios para os moradores
A Torre Verde beneficia diretamente os moradores da Rocinha em diversas frentes:
1. Educação ambiental: cerca de 780 crianças de 4 a 12 anos participam de aulas sobre sustentabilidade, economia circular e preservação ambiental.
2. Geração de renda e empregos: moradores locais são contratados para trabalhar na torre, desde o cultivo de alimentos até a manutenção do espaço.
3. Produção de alimentos saudáveis: os alimentos cultivados sem agrotóxicos são distribuídos para a comunidade, garantindo maior acesso à alimentação nutritiva.
4. Valorização social: o projeto promove um sentimento de pertencimento e cuidado com o ambiente local, incentivando a conscientização sobre descarte adequado de resíduos.