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Publicado em: 30/10/2025 | Atualizado em: 30/10/2025

Expo Favela 2025 destaca como ciência e tecnologia estão transformando comunidades do Rio

Cristina Cruz, Débora Motta e Flávia Machado

A partir da esq., o secretário de Estado de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca, a presidente da FAPERJ, Caroline Alves, e o secretário de Ciência e Tecnologia, Anderson Moraes, em participação no painel 'Conectando a favela e o asfalto', que discutiu soluções para os territórios populares  

Com iniciativas que unem criatividade, ciência e saberes locais, comunidades fluminenses vêm se tornando verdadeiros laboratórios vivos de inovação social. Em diferentes territórios do estado, projetos apoiados pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) mostram que a produção de conhecimento vai muito além dos muros das universidades — está nas vielas, associações de moradores, coletivos e nas mãos de quem transforma a realidade por meio da ciência.

A FAPERJ e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) participaram da Expo Favela 2025, evento que reuniu empreendedores, pesquisadores e lideranças comunitárias de diferentes regiões do estado no último fim de semana, dias 26 e 27 de outubro, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, mediou, na manhã de domingo, o painel “Conectando a Favela e o Asfalto: Ciência, Tecnologia e Inovação Social”, ao lado do secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Moraes, e do secretário de Estado de Defesa do Consumidor, Gutemberg de Paula Fonseca. “Este painel mostra como a ciência e a tecnologia podem se aproximar da vida das pessoas e gerar soluções concretas para os territórios populares. É um espaço de diálogo, aprendizado e troca de experiências”, destacou Caroline Alves.

Projetos que unem saberes e transformam realidades

Ao longo dos dois dias de evento, o estande da FAPERJ recebeu visitantes de todas as idades e apresentou projetos que combinam ciência, tecnologia e saberes comunitários. Entre os destaques estavam:

Nós do Crochê (Rocinha) – artesanato como ferramenta de empoderamento feminino;

Farmácia Viva Comunitária (Complexo da Maré) – produção de fitoterápicos e cosméticos naturais;

CirculArte (Complexo do Alemão) – capacitação em costura e geração de renda;

Padaria em Container – incubação de microempreendimentos;

App de Educação Financeira (Cidade de Deus) – tecnologia gamificada para orientar microempreendedores.

“A ciência e a tecnologia precisam estar onde as pessoas estão. Levar oportunidades e investimento para os territórios amplia o acesso e gera caminhos reais para o desenvolvimento sustentável”, afirmou Anderson Moraes.

Inovação e cidadania nos territórios

O estande da FAPERJ foi palco de palestras de empreendedores contemplados pelo edital PISTA, como Dany Shekinah, que contou sua experiência de inovação social à frente do negócio no ramo da beleza criado no Complexo do Alemão, hoje com filial na Barra da Tijuca (Foto: Flávia Machado)

O público também pôde conhecer iniciativas do Programa PISTA – Pesquisa, Inovação e Saberes nos Territórios de Ação - e do edital Espaço Inovador, que incentivam soluções criativas para desafios urbanos e fortalecem lideranças locais. Oficinas, demonstrações e atividades interativas mostraram na prática como a ciência pode transformar as favelas e periferias do estado.

“A inovação também passa pela consciência dos direitos e deveres. A tecnologia deve ser usada como ferramenta de cidadania, especialmente dentro das comunidades”, ressaltou Gutemberg de Paula Fonseca.

Empreendedorismo e inovação social

A ReCriaPapel, contemplada no edital PISTA 2025 e idealizada pela empreendedora Marina Galluzzi, apresentou seu projeto no estande da FAPERJ no sábado, com a proposta de instalação de uma fábrica de papel reciclado na Escola Municipal Governador Marcello Alencar, na cidade de Petrópolis. A ideia é incentivar a consciência ambiental entre os alunos, e a geração de renda para a escola, com um projeto que tem início no ano letivo de 2026, e que tem a possibilidade de ser replicado para outras escolas públicas. "Os alunos participam de todo o processo: organizam a coleta seletiva nas salas de aula e participam da confecção do papel artesanal. É uma atividade lúdica que estimula a criatividade e desperta a consciência ambiental. Isso gera ainda renda para as escolas e proporciona uma receita autônoma", explicou Galluzzi.

Criada na Rocinha, comunidade do Rio de Janeiro, e contemplada pela segunda vez no Projeto Pista, a Nós do Crochê surgiu com o propósito de gerar renda e autonomia para mulheres em situação de vulnerabilidade, por meio do artesanato e do empreendedorismo coletivo. Na Expo Favela, uma das fundadoras, Heloísa Cyrillo, falou para uma plateia que incluía as próprias artesãs e suas histórias de superação, sobre os próximos passos do projeto, que entra em uma nova etapa desde sua criação, com a implementação de cursos e a multiplicação da iniciativa Brasil afora. "A FAPERJ nos apoiou, em 2022, em um momento delicado de nossa história e esse apoio foi um divisor de águas. Desta vez, o apoio da Fundação vem novamente para transformar: o objetivo agora é multiplicar, crescer e garantir a permanência do projeto", destacou Heloísa.

Comunicação comunitária e empreendedorismo: a partir da esq., a diretora de Tecnologia da FAPERJ, Elaine Souza, a presidente da Fundação, Caroline Alves, e a jornalista do projeto Fala Roça, Karen Fontoura (Foto: Divulgação)

Novo contemplado no edital PISTA, o projeto 'Empreendedorismo por trás das vielas', das irmãs Dany Shekinah e Tatiane Cardoso, empreendedoras no ramo da beleza, foi uma das atrações na ExpoFavela. Em palestra no sábado, no estande da FAPERJ, elas contaram que a motivação para o trabalho vem da própria missão da empresa: empoderar outras mulheres. Nascido no Complexo do Alemão, o negócio idealizado pelas irmãs que são referência em alongamento de cabelos (megahair) na comunidade, hoje expande seu alcance para outros bairros, como a Barra da Tijuca, e pretende ajudar outras mulheres empreendedoras a traçar um novo caminho, com a propriedade de quem já passou por muitos percalços.

No domingo, Dany apresentou na Sala Multiuso a palestra motivacional “O poder da escolha”, em que detalhou sua trajetória pessoal de superação, quando deu início ao seu empreendimento, com muitas dificuldades. “Comecei aos 16 anos fazendo escova na casa das clientes, carregando minha mochila com ferramentas de trabalho de casa em casa, no Alemão. Os nossos sonhos são exclusivamente nossos. Escolham hoje o que mais ninguém pode escolher por vocês”, disse.

Outro projeto apresentado no estande da FAPERJ no domingo foi o “Fala Roça”, da jornalista moradora da Rocinha Karen Fontoura. Estudante de Jornalismo na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ), ela integra a equipe do projeto de comunicação comunitária que oferece um portal com dados, serviços e oportunidades (https://falaroca.com/), uma agência de notícias que conecta os empreendedores locais (Fala Roça Conecta) e o jornal impresso Fala Roça (@jornalfalaroca). Criado há 12 anos, o projeto já formou mais de mil comunicadores populares e realizou eventos como o Viradão Cultural da Rocinha. “A favela comunica, cria e inova e o Fala Roça é a prova disso”, disse Karen.

O protagonismo feminino para o empreendedorismo e o cooperativismo comunitário também esteve presente na palestra sobre o projeto CirculArte, apresentada pela pesquisadora na área de Engenharia dos Materiais Karollyne Monsores. O projeto, desenvolvido em parceria com o Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), promove capacitação em costura e geração de renda para mulheres. “Já reaproveitamos 200 kg de resíduos têxteis e envolvemos mais de 200 pessoas nesse projeto. Oferecemos oficinas de costura criativa e temos cerca de 300 mulheres multiplicadoras desse conhecimento. Fazemos inovação social na Rocinha com agulhas, tecidos e propósito”, contou Karollyne.

Política pública de inclusão científica

O trabalho da FAPERJ e da SECTI consolida políticas públicas voltadas à inclusão e democratização da ciência, reconhecendo o potencial das favelas e periferias como espaços de inovação, desenvolvimento sustentável e cidadania ativa.

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